Recentemente fiz uma viagem de férias em que realizei alguns sonhos que há muito tempo me rodearam - um deles era o de conhecer Berlim, e o outro que era dirigir um Trabant P60. Berlim é definitivamente a cidade mais legal que já conheci, por ser fascinante e moderna sem ser opressora, e com tanta história de conquistas e derrotas mas sem que isso torne a ela ou aos habitantes pessoas rancorosas. Muito pelo contrário, eles foram muito prestativos e bem humorados, principalmente ao se considerar a fama da rispidez alemã, apesar dos temas "Alemanha Oriental" e "Muro de Berlim" ainda serem um certo tabu para os habitantes comuns de lá (crianças que leem a este blog: se não sabem nada sobre Alemanha Ocidental nem Oriental, Guerra Fria e COMECON, façam uma gentileza para vocês mesmos - LEIAM A RESPEITO! O mundo não se resume a iPad e Facebook.).
E o que dizer do Trabant P60? Este ícone da Alemanha Oriental e dos tempos em que existiam dois mundos, guerra fria e "cortina de ferro", ao contrário de trazer imagens de competição e medo, vem com uma aura de simpatia e ternura no formato de sedã 2 portas, de cor azul celeste e motor de dois cilindros e dois tempos. Num mundo onde os veícuos tem tanta tecnologia de segurança e conforto que tornam dirigir uma atividade enfadonha, ver um Trabi ali, bem pertinho, traz imediatamente um sorriso ao rosto e um deseho que o mundo fosse, pelo menos em alguns aspectos, um pouco mais simples. E ao vê-lo vem a primeira surpresa: ele é menor ao vivo. Certamente menor que um Fiat 147, ele tem espaço interno suficiente para duas pessoas e duas crianças de até 10 anos. Mais que isso, brinque de sardinha em lata, pois ele é bem apertadinho MESMO, agravado pelas caixas de rodas dianteira e traseira invadirem a área da cabine e achatando as pernas do motorista e passageiros para os lados. É impressionante mas... ele conseguiu ser menor que um Gordini! Mesmo assim, fizemos a experiência de dirigí-lo por Berlim Oriental em 5 pessoas, para certa surpresa do dono (?) da agência (?) de aluguel de Trabant.
E alguém ainda tinha dúvida que isso ia dar certo?
Antes de enviar todo o mundo dentro do valente Trabant, abro a torneira de combustível, dou partida e dou duas voltas no estacionamento para avaliar o comportamento do carro e pegar os "macetes" de como frear sem ter freios a disco ventilados, trocar as 4 marchas na confusa alavanca na coluna de direção "fora de padrão" e acostumar com o peso da direção, que é relativamente pesada para um carro tão leve. O pequeno motor bicilíndrico de 2 tempos e refrigerado a ar se assemelha muito a motores de motocicletas (grandes) antigas, com seus 850 cm3 e 26 cv. Mesmo parecendo pouco, o motorzinho dá conta do recado, graças à simplicidade do carro, que não conta nem com bomba de combustível (a mistura de gasolina com óleo 2 tempos desce do tanque para o carburador por gravidade, como nas motocicletas), uma reguinha no lugar do marcador de combustível no painel, e pneus tão finos que parecem ter vindo de alguma carriola de pipoca.
Dá para ter noção do aperto que estava dentro dele?
Tudo ia (quase) bem até o carburador entupir e o carro decidir afogar. Daí a diversão virou um saco, com o pobre Trabi morrendo a cada parada no semáforo e não tendo força direito para sair do lugar. Culpa do carro? Não, sem dúvida ele é um valente. Do motorista? Pouco provável. Do combustível sujo e do óleo 2T utilizado? Tem todo o jeito que sim. Ao devolver o carro, o rapaz explicou para o meu amigo que compartilhou comigo e as outras pessoas deste passeio, que este problema não era entupimento, "mas sim bomba de combustível falhando, afinal ele era um carro preparado para o inverno e não para dias tão quentes". Balela. Se o Trabi não tem bomba de combustível, como é que ela ia dar problema??? Fim do percurso, todo o mundo desce com um sorriso no rosto. Eu, por ter dirigindo um Trabi nesta cidade tão icônica. Os demais, por conseguir sair do carro para se alongar e esticar as pernas.
Quer saber mais sobre o Trabant P60? Clique Aqui, em Inglês ou vá à página abaixo, no Wikipedia em português: http://pt.wikipedia.org/wiki/Trabant
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Querido Lusao/Luzao: como é gostoso ouvir a descricao de uma coisa ou um fato, por quem conhece do assunto. Sempre limitei meus comentários ao Trabi a : "Ah, que bonitinho..." Havia tanto mais para falar, e eu nao sabia. Obrigada por nos ter levado juntos nesta aventura. Dois anos morando aqui e ainda nao tínhamos ousado. Valeu esperar. Nao poderia haver melhor companhia (e motorista)! PS: Estamos às ordens para ajudar a procurar um bom, bonito e barato. Mas tem que ser logo... Bjs!
ResponderExcluirAndrea, querida amiga: quem tem que agradecer aqui sou eu, pois você e o Carlos fizeram de tudo (e mais um pouco) para que tivéssemos um passeio inesquecível aí em Berlim, e passear de Trabi foi, em parte, culpa sua também. E essa sua proposta é irresistivelmente irrecusável... antes de qualquer movimento impulsivo, deixe-me procurar (rapidamente) por um despachante aduaneiro que consiga trazer um carrinho destes para cá, e daí eu volto a importuná-los. E lembre-se: a Manuela está esperando a vocês e sua mudança de portas abertas quando vcs voltarem para cá. Bjs!
ExcluirAhhhh que legal que você descreveu esse super passeio espremido, digo, emocionante! hehehe
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