Compartilhando o significado de ter um carro antigo... ou mais de um!

sábado, 28 de novembro de 2015

Frank - diagnóstico e nova internação

Como dito na postagem anterior, o Frank chegou em casa tossindo, mancando até parar na vaga e de lá não conseguir mais sair por força própria. Seguiram-se pesquisas e contatos com conhecedores (amadores e profissionais) de Wartburg e DKW, tanto aqui na Alemanha como no Brasil, e o diagnóstico acabou sendo junta de cabeçote queimada, provocada por um carburador que talvez já tenha tido dias melhores. Para quem não se lembra, veja o post anterior e agora com o vídeo das pipocadas que o Frank deu na estrada:


Muni-me de minhas ferramentas, manual de oficina em Alemão (ou seja, com boas figuras e um verdadeiro bingo de palavras que eu entendia num mar de outras ininteligíveis para mim) e outras informações da internet, e pus-me à obra. Contei com a inestimável ajuda da Adriana para ligar o carro, pegar alguma peça ou ferramenta e outras tarefas que são necessários mais de um indivíduo. 

Comecei pelo carburador, tirando-o e limpando-o e trocando a junta e giclês e injetores. Coloquei lá de volta, e o carro infelizmente estava igual ou seja, cuspindo fumaça azul esbranquiçada e difícil de pegar. Conferi as velas e as três estavam faiscando normalmente, como devia ser. Logo, a única alternativa cabível era trocar a junta de cabeçote. 


Garagem escura, Frank sem frente... e assim seguimos.
A foto não mostra, mas o motor está no ponto. Acreditem em mim. :-)
Há faísca nas três velas, portanto não é ignição.
Fumaça...
... mais fumaça...
...e MUITA fumaça branca. A junta do cabeçote se foi.
Adriana dispersando a fumaça na garagem. Parecia que estávamos na Serra do Mar.
Como não tinha jeito, parti para trocar a famigerada junta de cabeçote, praguejando a oficina anterior por não ter nem pensado nisso e me cobrado uma fortuna pelo serviço mal feito. Alguns vizinhos chegavam perto e conversavam - ora em Inglês, ora em Alemão (neste caso, era uma conversa de doido pois entendia-se pouco e falava-se o que vinha na cabeça...).  Tudo corria mais ou menos bem, até que o cabeçote não saía nem pelos poderes de Greyskull, como diria He-Man. Voltei à pesquisa e descobri que este cabeçote só sai se os prisioneiros forem tirados, então comprei porcas para tirá-los mas... só quatro saíram, os demais espanavam as porcas (e acho que também riam da minha cara... afinal, eles estão lá há 43 anos e não seria um luso-brasileiro besta que os sacariam de lá). Intrigado e ciente de não ter todas as ferramentas adequadas, comprei pela internet sacadores de prisioneiros, já planejando concluir o trabalho. 

Numa outra noite, enquanto tentava tirar o quinto prisioneiro (esse que está mais alto na foto abaixo), chegou o zelador do prédio. Para falar coisas doces sobre o carro? Não. Para me oferecer uma cerveja? Também não. Para dizer que eu não podia mexer no carro lá na garagem? Sim, acertou! Ainda por cima ele reclamou da água do radiador que estava "sujando a garagem"... mas espera. Essa garagem tem poeira desde os tempos em que o Muro de Berlim era uma realidade cotidiana e o cara me vem falar que a água está sujando a garagem?? Só se ela foi feita de açúcar...

Operaçao de remoção do cabeçote. Quem disse que os prisioneiros querem sair?
Apenas quatro dos oito prisioneiros saíram até agora. Lá fui eu comprar um extrator de prisioneiros...
Resignado, entristecido e frustrado, voltei ao recanto do apartamento e pensei no que fazer. Saí à procura de outra alternativa até que uma luz se acendeu em minha mente - dias antes, fui até o vilarejo de Prettin, perto de um monte de outros vilarejos e longe de qualquer cidade grande, e conheci um mecânico / vendedor de peças que faz serviços em carros alemães orientais - a placa em frente à oficina / loja / casa dele já diz alguma coisa... Um parênteses: neste interim, chegaram as ferramentas que comprei - aliás, de ótima qualidade - e a sensação foi a mesma de receber pelo correio, os ingressos para um show que acontecera na semana anterior. Pelo menos eu ainda posso usá-las, um dia, em algum outro lugar. 


Medidor de compressão de cilindros, dois tipos de sacadores... ferramentas de ótima qualidade, que um dia serão usadas em algum outro lugar. 
A frente da casa / oficina / loja do cidadão. IFA era o conglomerado fabril Alemão Oriental, que reunia os fabricantes de carros, caminhões, tratores e motocicletas. 
Escrevi um e-mail usando meus parcos conhecimentos de Alemão, e nos entendemos de modo a ele vir buscar o Frank com uma carretinha e fazer o que precisa ser feito no carro (aproveitando para me trazer uma encomenda... que deixo para contar numa próxima postagem) e posteriormente eu ir buscá-lo na oficina no meio do mato lá em Prettin. E ontem finalmente foi o dia em que o Frank foi para (mais um) conserto, esperando ser o conclusivo - saí mais cedo do trabalho para ajudar na retirada e, depois de uma certa movimentação e planejamento, conseguimos enfiá-lo na carretinha para seguir viagem até os confins de Brandenburgo, para retornar saudável para Berlim após duas ou três semanas. Mais histórias em breve!

Frank em preparação para ser transportado "de ambulância", para o médico - aliás, o "Doutor" que vai cuidar dele é quem está em cima da carreta. 
Frank já carregado na carretinha. Até o pedinte olhou curioso.