Compartilhando o significado de ter um carro antigo... ou mais de um!

domingo, 19 de agosto de 2012

Wenceslau - a cirurgia plástica parte final

E Wenceslau voltou da "cirurgia plástica", agora com a cor original verde guarujá (veja nos posts anteriores), parachoque dianteiro novo e muito brilho, além da necessidade de alguns ajustes necessários.

Algumas coisas deram trabalho, como o capô (ou tampa do porta malas), que estava travada e não queria abrir de jeito nenhum, e na regulagem, quebrou o pino de travamento, e também a montagem das manivelas dos vidros, que foram feitas pelo ajudante do funileiro/pintor e acabaram sendo feitas erroneamente. E como o mesmo rapaz também montou as maçanetas, uma delas (a que foi trocada) não teve o miolo de chave substituido e porcausa disso, o carro não tranca a porta. Este é um dos ajustes pós-entrega que eu vou fazer no fim de semana que vem, ou mesmo durante a semana, junto com a regulagem do acionamento da buzina. O botãozinho meia boca que estava lá antes foi substituído pelo sistema original, com molas e borrachas montados no cubo, e como brinde, ganhei um carro cuja buzina é acionada até pelo poder da mente tamanha a sensibilidade que ficou. Como nem eu nem Wenceslau queremos chamar a atenção pelo barulho, este é um item que receberá atenção especial. 

Wenceslau no estacionamento do trabalho, ao cair da tarde, e a primeira foto de Wenceslau "antes", do anúncio na internet que me fez ir vê-lo. Percebem a evolução?

Os cintos de segurança foram montados seguindo a lei da boa vontade sem bom senso - os cintos traseiros eram obviamente mais novos que os dianteiros, mas a fixação deles na coluna do carro é diferente, então o resultado final ficou, digamos, "questionável", e vai exigir um retrabalho. E como era de se esperar, surge uma pequena lista de peças necessárias para a conclusão de toda esta montagem - vão desde borrachas que se acham em qualquer autopeças, quitanda ou farmácia, a até coisas que os "loneiros" (vendedores de peças nos encontros) quando tem, "enfiam a faca", como as capas de cintos de segurança e o estribo do lado do passageiropaa substituir o que está no carro - mas tem que ser um estribo orgininal, pois os do mercado paralelo são encontrados acham aos montes, mas são tão ruins que dá até vergonha de colocar nele...

Outra coisa que vou precisar fazer é pintar o assoalho por dentro - não sei se por esquecimento ou boa intenção, o assoalho não foi pintado da cor do carro, mas de preto, e recoberto por uma camada de óleo. Ótima intenção no que se trata de prevenção a corrosão, mas nada de bom senso pois os tapetes de borracha ficam "dançando" sobre o assoalho besuntado, o que não só tirou a tinta que havia sobre a chapa como também faz os pés escorregarem enquanto se acionam os pedais. Felizmente, este e todos os demais probleminhas são fácesis de resolver, e espero que sejam resolvidos em breve, para que ele possa passar pela vistoria e receber a desejada Placa Preta.

O resultado final ficou muito bom, e o funileiro/pintor fez mais um trabalho bacana. A pintura nova e da cor original deu vida a ele, a nova caixa de ar já veio preparada para receber ar quente (só falta uma peça para que o conjunto fique completo; achar esta peça é que é o desafio), e as borrachas e frisos que foram substituídos tiram qualquer aparência de carro "remendado". Os bancos agora se ajustam para a frente e para trás, e até o problema de trepidação da embreagem parece ter sido corrigido. E com isso, Wenceslau volta para o convívio em sociedade bem melhor do que saiu, e esbanjando alegria e cor nas cidades e estradas, em tempos carentes de romantismo e colorido. Para fechar este post de hoje e ajudá-los a opinar sobre o resultado final, vejam abaixo mais duas fotos - uma do "antes"  do serviço e outra do "depois'. 





terça-feira, 14 de agosto de 2012

Trabant - impressões ao dirigir

Recentemente fiz uma viagem de férias em que realizei alguns sonhos que há muito tempo me rodearam - um deles era o de conhecer Berlim, e o outro que era dirigir um Trabant P60. Berlim é definitivamente a cidade mais legal que já conheci, por ser fascinante e moderna sem ser opressora, e com tanta história de conquistas e derrotas mas sem que isso torne a ela ou aos habitantes pessoas rancorosas. Muito pelo contrário, eles foram muito prestativos e bem humorados, principalmente ao se considerar a fama da rispidez alemã, apesar dos temas "Alemanha Oriental" e "Muro de Berlim" ainda serem um certo tabu para os habitantes comuns de lá  (crianças que leem a este blog: se não sabem nada sobre Alemanha Ocidental nem Oriental, Guerra Fria e COMECON, façam uma gentileza para vocês mesmos - LEIAM A RESPEITO! O mundo não se resume a iPad e Facebook.).

E o que dizer do Trabant P60? Este ícone da Alemanha Oriental e dos tempos em que existiam dois mundos, guerra fria e "cortina de ferro", ao contrário de trazer imagens de competição e medo, vem com uma aura de simpatia e ternura no formato de sedã 2 portas, de cor azul celeste e motor de dois cilindros e dois tempos. Num mundo onde os veícuos tem tanta tecnologia de segurança e conforto que tornam dirigir uma atividade enfadonha, ver um Trabi ali, bem pertinho, traz imediatamente um sorriso ao rosto e um deseho que o mundo fosse, pelo menos em alguns aspectos, um pouco mais simples. E ao vê-lo vem a primeira surpresa: ele é menor ao vivo. Certamente menor que um Fiat 147, ele tem espaço interno suficiente para duas pessoas e duas crianças de até 10 anos. Mais que isso, brinque de sardinha em lata, pois ele é bem apertadinho MESMO, agravado pelas caixas de rodas dianteira e traseira invadirem a área da cabine e achatando as pernas do motorista e passageiros para os lados. É impressionante mas... ele conseguiu ser menor que um Gordini! Mesmo assim, fizemos a experiência de dirigí-lo por Berlim Oriental em 5 pessoas, para certa surpresa do dono (?) da agência (?) de aluguel de Trabant.
 
E alguém ainda tinha dúvida que isso ia dar certo?

Antes de enviar todo o mundo dentro do valente Trabant, abro a torneira de combustível, dou partida e dou duas voltas no estacionamento para avaliar o comportamento do carro e pegar os "macetes" de como frear sem ter freios a disco ventilados, trocar as 4 marchas na confusa alavanca na coluna de direção "fora de padrão" e acostumar com o peso da direção, que é relativamente pesada para um carro tão leve. O pequeno motor bicilíndrico de 2 tempos e refrigerado a ar se assemelha muito a motores de motocicletas (grandes) antigas, com seus 850 cm3 e 26 cv. Mesmo parecendo pouco, o motorzinho dá conta do recado, graças à simplicidade do carro, que não conta nem com bomba de combustível (a mistura de gasolina com óleo 2 tempos desce do tanque para o carburador por gravidade, como nas motocicletas), uma reguinha no lugar do marcador de combustível no painel, e pneus tão finos que parecem ter vindo de alguma carriola de pipoca.

 Com todos a bordo, lá fomos nós ao passeio. Mesmo com tantos por lá, ele chama a atenção por onde passa, ainda mais com cinco pessoas dentro dele, sendo uma delas no colo de outras duas. Até as barbeiragens intoleráveis para os motoristas de veículos modernos são perdoadas quando quem as cometeu (no caso, eu) estava ao volante do Trabant. Velocidade não era o problema para ele, mas chegar à imobilidade sim era um desafio - os freios a tambor dele se aqueceram com relativa rapidez e perderam eficiência antes do previsto, o que impediu maiores audácias. Num trecho urbano não foi possível avaliar a estabilidade dele, mas não pareceu nada de outro mundo, e a suspensão dele absorveu bem os poucos obstáculos a que foi submetida. A troca de marchas era confusa porcausa dos movimentos pouco usuais para ele, em relação a outros carros com alavancas de marcha na coluna de direção - normalmente, "puxa-se" a alavanca para engatar as menores marchas e vai-se "empurrando" e engatando para as marchas maiores, mas no Trabi isso é ao contrário e então até lembrar que a terceira marcha era engatada puxando-se a alavanca para frente, já havia passado o ponto de trocar de marcha. Difícil mesmo foi suportar o calor dentro dele, já que as janelas traseiras não basculam e a capa de pelúcia dos bancos não refrescaram o dia de muito sol que fazia lá em Berlim.

Dá para ter noção do aperto que estava dentro dele?

Tudo ia (quase) bem até o carburador entupir e o carro decidir afogar. Daí a diversão virou um saco, com o pobre Trabi morrendo a cada parada no semáforo e não tendo força direito para sair do lugar. Culpa do carro? Não, sem dúvida ele é um valente. Do motorista? Pouco provável. Do combustível sujo e do óleo 2T utilizado? Tem todo o jeito que sim. Ao devolver o carro, o rapaz explicou para o meu amigo que compartilhou comigo e as outras pessoas deste passeio, que este problema não era entupimento, "mas sim bomba de combustível falhando, afinal ele era um carro preparado para o inverno e não para dias tão quentes". Balela. Se o Trabi não tem bomba de combustível, como é que ela ia dar problema??? Fim do percurso, todo o mundo desce com um sorriso no rosto. Eu, por ter dirigindo um Trabi nesta cidade tão icônica. Os demais, por conseguir sair do carro para se alongar e esticar as pernas. 

Resumo da ópera. O Trabant é tosco? Sim, ele é tosquinho, tadinho, mas tem uma alma muito boa e estilo único. Merece a alcunha de "Pior carro do mundo", que foi dada logo após a queda do Muro de Berlim? Não, tem carro muito pior que ele, como os veículos franceses contemporâneos em projeto. Eu teria um? Sim, teria e o utilizaria quase que diariamente pois ele é pequeno, ágil, econômico e, se quebrar algo, é muito fácil de arrumar. O negócio complica ao se pensar que há itens de conforto hoje que fazem diferença e que ele não possui - como desembaçador traseiro e ventilação interna forçada (direção hidráulica e ar condicionado só se for em sonho). Dá vontade de trazer um para cá e chamar de meu, mas para isso tem que achar um bom, bonito e barato lá na Alemanha, e isso obriga a recorrer à boa vontade alheia, o que pode nem sempre é possível ou eficaz... e também há outros projetos na frente como terminar a Manuela, o Wenceslau e o Don, vender o Puma GTB (Quer comprar ou sabe quem queira? Os fundos obtidos "possivelmente" serão revertidos no projeto Trabi Brasil 2013), começar a restauração do Irineu e, ainda por cima, pensar com carinho na ideia de montar uma Chevrolet C-10 com motor V8 350 ... como são muitas "crianças" para dar atenção, para tempo e dinheiro limitados, algumas prioridades devem ser definidas antes de qualquer decisão a respeito, mas quem sabe... sugestões são sempre bem vindas.

Quer saber mais sobre o Trabant P60? Clique Aqui, em Inglês ou vá à página abaixo, no Wikipedia em português: http://pt.wikipedia.org/wiki/Trabant

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