Compartilhando o significado de ter um carro antigo... ou mais de um!

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Carros usados na Alemanha - cuidado com a "sobra de rico" (Parte I)


Tem aquele ditado que diz “raios não caem duas vezes no mesmo lugar”; sorte com carro usado, aqui na Alemanha, também. Não me refiro a carros antigos, que ora já são bem mantidos, ora são objetos para restauração, e que, portanto qualquer problema é mais óbvio. Minha referência é sobre o típico carro usado para uso diário, que é mais barato que um novo e deveria ser confiável. É pessoal, aqui a frase “o barato sai caro” é bem verdadeira, ainda que o tal barato não o seja de verdade.
  
Lembram-se daquele Skoda Felicia? Simples, robusto, relativamente confortável e barato? Pois então, depois que ele foi embora, veio para o lugar dele um BMW 316i, ano 2004. Um bom carro médio, de desempenho modesto, mas em geral um carro honesto ao longo do ano que fiquei com ele. Ele era bem confortável que o Felicia, tinha só 128000 km quando eu o comprei, e era bem suficiente tanto na cidade quanto na estrada. 
O "Tio Berto"
Só que depois de uns quatro meses ele começou a fazer um barulho no motor – ao ligar, ouvia-se um ronco nos estranho, e que parava após 3 segundos. Era a corrente de comando de válvulas, item típico de desgaste nesses carros, e cuja troca é bem cara. Assumi o risco e fui utilizando-o, e daí outras coisas começaram a se fazer presentes – a embreagem já dava uma leve patinada, o vidro da porta do motorista emperrava de vez em quando, e o carro começou a consumir óleo, na faixa de 1 litro a cada 1500 km, que mesmo sendo previsto pelo manual, era de se estranhar. Daí um dia foi conferir o nível de óleo e apareceu uma nata clara na vareta. Era a temida mistura de água no óleo, sinal que seria preciso abrir o motor em breve. Como já comentei antes, os serviços na Alemanha são muito caros, em especial aqui na região de Munique, e consertar o “tio Berto” (apelido deste carro) ficaria mais caro que comprar outro. Anunciei-o, e depois de um mês vieram três jovens, andaram no carro e depois de uma breve negociação nós fechamos negócio. Um deles era mecânico, então faria estes serviços necessários nas horas vagas, e comprou o carro sabendo o que lhe esperava.

O "Tio Bento"
"Tio Berto" e "Tio Bento" pela última vez.
O “Tio Berto” deu lugar a outro BMW, desta vez 323i ano 2000, automático. Carro igualmente confortável, pouco rodado pelo ano (135000 km), e com desempenho bem superior ao 316i. Acontece que ele não teve uma vida fácil, e ele tinha uma aparência de carro cansado. Mesmo assim, foram três meses de uso, em viagens e trânsito para o trabalho. Até que chegou o dia da inspeção. O resultado da inspeção foi tão ruim, que eles só faltaram falar „olha, se você quiser, deixa o carro aqui e a gente joga ele fora para você“ – havia diversos vazamentos de óleo, os amortecedores estavam sem carga, e os discos de freio precisariam ser trocados; para fazer o carro voltar à vida em condições de rodar de acordo com as leis alemãs me custaria um dos meus rins, então fomos pelo mesmo caminho: anúncio, pechincha, redução de preço, até que um homem de aparência muito esquisita e cuja dentadura sorria e assobiava ao mesmo tempo, pagou quase que um valor simbólico para levar o carro, que posteriormente seria exportado para a Tunísia. Pois é, vi meu suado dinheirinho gasto numa confortável viatura, ser reduzido a uma fração do investido por não ser considerado seguro para as Autoestradas alemãs, mas que é mais do que suficiente para passar mais 10 anos de vida operacional em algum país africano ou então no Leste Europeu sem grande manutenção adicional. Minha tristeza e indignação com a situação diminuiu quando, duas horas depois, caiu uma chuva de granizo que eu nunca havia visto antes (havia pedras de gelo de quase oito cm de diâmetro caindo do céu), e que transformariam o preterido BMW em um monte de sucata. Três meses depois dessa chuva, ainda se veem muitos carros completamente amassados porcausa deste evento.

Tia Frida
Com um pouco de procura, o "Tio Bento" deu lugar à "Tia Frida" - uma bonita perua Mercedes C180 K, ano 2004, com quilometragem baixa, e absolutamente nenhum sinal de vazamento nem de corrosão. Confortável, bonita, espaçosa e bem cuidada, com isenção válida por pelo menos um ano e meio, era um bom carro para o que eu procurava. E como está com ela até agora? Você saberá no próximo texto.