Compartilhando o significado de ter um carro antigo... ou mais de um!

domingo, 24 de abril de 2011

Amigo da onça parte 5 (última)

Oi pessoal,

Este post vai com atraso pois, ao fazer "upload" de fotos o meu computador travava e não dava para fazer mais nada. Com ele mais dócil hoje, nesta linda manhã de sol, relembro sobre a fria tarde/noite de Páscoa, após um almoço de família, em que comecei a relembrar várias coisas, e entre elas, bons momentos que tive com o Dodge. Na verdade, há algum tempoo venho lembrando destes momentos pois, desde que comecei a escrever sobre este famigerado veículo, muitas experiências foram relembradas, tanto ruins quanto boas, e que foram em boa parte transcritas aqui neste blog.

Se alguns perguntam por que fiquei tanto tempo com aquele carro se ele deu tantas dores de cabeça, podem ter certeza que foi por dois motivos - o primeiro é que ele me proporcionava prazer e contentamento enquanto o dirigia e mexia nele; o segundo, é porque sempre tive fé que ele ficaria melhor do que estava antes (o que de fato aconteceu) até ficar perfeito (o que realmente ficou longe de acontecer...).

Um dos melhores momentos que tive com ele foi uma vez em que fui para Mogi da Cruzes com ele numa sexta-feira à noite (vejam o post "Amigo da Onça parte 3") , só pela graça de dirigí-lo na configuração mais legal que eu poderia ter - câmbio de 4 marchas, carburador quadrijet, diferencial Dana, barra estabilizadora traseira, e comando de válvulas só um pouquinho mais alto. Apesar do cheiro, foi muito gostoso dirigir, numa sexta à noite, com a seleção de músicas que eu gosto, por alguns quilômetros, estando praticamente só eu e o carro na estrada. O Dodge parecia estar feliz passeando na estrada, numa média de 110 Km/h, reinando na rodovia Índio Tibiriçá, e cantando ao longo da estrada com o ronco produzido pelo seu motor V8. Parecíamos uma coisa só, agíamos em harmonia e nos entendemos de forma exemplar, como nunca antes. A temperatura de água não subiu, a luz do óleo ficou quietinha, farois, piscas, luzes, enfim, tudo funcionou como manda o figurino; depois de chegarmos a Mogi da Cruzes, paramos num posto de gasolina para comer um pão de queijo e tomar uma cerveja long neck (naqueles tempos em que havia tolerância para beber e dirigir), aproveitamos para colocar um pouco de gasolina e conferir que o nível de água do radiador continuou intacto, e seguimos de volta para São Bernardo do Campo, numa curta jornada igualmente prazerosa. Foram pouco mais de 150 Km muito felizes, e ao final desta estripulia, guardei-o na garagem e nos olhamos como se fôssemos cúmplices, grandes amigos que foram fazer uma boa farra juntos.

Outra vez memorável para mim foi quando o peguei na oficina (?) do Alaor após passar por uma boa revisão mecânica incluindo a troca de buchas de suspensão. O Dodge, mesmo com bancos ruins, muita bolhas de ferrugem aparentes e o famigerado "perfume" já descrito anteriormente, estava macio de andar, ágil e firme como nunca estivera comigo. Eu parecia um cachorro em churrasco tamanha a minha felicidade em dirigí-lo e notar que ele respondia, sem parecer uma carroça ou uma barca molenga, o motor respondia com a agilidade que lhe era permitida, e o câmbio de 3 marchas respondia às trocas de marcha na mesma medida em que se tomava cuidado ao se passar de primeira para segunda sem encavalar (defeito comum entre Dodge, Opala e Aero Willys). Contornamos a estradinha do Riacho Grande até a Via Anchieta de forma ágil e constante, e trafegamos pela rodovia como reis da estrada - mesmo que não fôssemos de facto, a sensação era fenomenal pois finalmente realizava meu sonho de adolescente de ter um Dodge Dart só para mim, mesmo que não estivesse ainda do jeito que eu queria. O curto trajeto serviu para comprovar que, a despeito de todos os problemas que ele pudesse apresentar, aquilo era o que eu queria ou seja, ter um carro antigo.

Ainda me lembrei das diversas vezes que parava com ele em algum lugar e me faziam algum elogio pelo carro, perguntavam o ano, consumo etc, e saia sempre com uma pontinha de orgulho por ter tido a coragem de ter um Dodge Dart numa época de carros cada vez mais modernos, fáceis de dirigir, econômicos e de certa forma, sem graça.

Decidi ir vê-lo de novo, mais para ver como ele está depois de tantos anos. Aproveitei o feriadão de sol e lá fui eu ao Riacho Grande, com a câmera preparada, para ver se iria rever este tão irreverente veículo; estava povoado com pensamentos do tipo "será que o atual dono voltou o câmbio de 3 marchas?" "como estão as trocas de óleo?" "ele parou de esquentar? E de feder?". A ansiedade foi aumentando, pois da última vez que o vira (e isso já fazia uns bons 4 anos), ele estava com a lateral traseira levemente amassada, mas bem no geral. Não sabia como iria reagir, pois era como rever uma ex-namorada, um amigo de longa data ou um parente próximo que teve que se mudar e voltara para a cidade por alguns dias, e finalmente teríamos a oportunidade de nos vermos, nem que por alguns breves instantes.


Chego à casa do Carlão, e os portões estavam fechados. Bato palmas, olho pelas frestas do portão, e ninguém aparece. Espero mais um pouco, vou à marina em frente (onde fica o Maia, pintor de barcos e carros e que já fez alguns serviços para mim), e nada de nenhum dos dois; até pensei em esperar por ele ou ligar para o Alaor e pedir o telefone dele, mas pensei duas vezes e fui embora para casa. Reencontrá-lo poderia ser como um reencontro entre ex-namorados ou ex-esposos, em que inicialmente poderiam vir só boas lembranças mas no final das contas, ambos sabem que foi bom enquanto durou mas o negócio é seguir em frente em rumos separados pois, de fato, é melhor assim. Ele está bem com o novo dono, que até onde sei cuida do Dodge como se fosse um filho, e eu estou bem com o Opala e o Fusca, além dos outros carros, e mesmo tendo ido lá sem a mínima intenção de comprá-lo de volta, só o fato de ir vê-lo é como dar atenção a quem não precisa enquanto há outros que precisam e querem atenção (como a Kombi "Manuela" que precisa de um câmbio novo entre outros). Prefiro ficar com as memórias boas (como nas fotos abaixo, em que ele posa todo bonito numa tarde ensolarada de domingo na Praça Bruxelas, em Rudge Ramos SBC, ou com a Dri em companha das hoje finadas cachorras Minhoca e Penélope) e ruins (mas hoje divertidas) dos anos em que passei com o Dodge e assim, seguir em frente.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Amigo da Onça - parte 4

Considerando que fiquei um certo tempo sem escrever, decidi brindá-los com mais uma parte das histórias sobre o querido Amigo da Onça, que de tão conhecido não precisa nem ser descrito mais como um Dodge Dart 4 portas ano 75. Se no post anterior eu falei sobre problemas elétricos, então neste eu falo sobre o maior amigo (ou inimigo) da eletricidade - a água.

Antes, devo fazer uma nota de esclarecimento: entra água em todo o carro antigo. Pode ser um Rolls-Royce, Ferrari, Fusca, Opala ou carro anfíbio, não tem jeito. É só dar uma chuva mais forte que o normal que você vai ganhar alguns pingos d'água nos pés ou no braço, vindo de borrachas ressecadas em geral, ou daquela ferrugem que ninguém vê (nem o funileiro, muito menos você), ou então pela falta daquela bendita peça que o pintor esqueceu de montar de volta. Aliás, quanto te dizem "não saio na chuva com esse carro" não é só um sinal de zelo pelo veículo antigo, mas também falta de vontade de ter que passar pano no carro ao chegar no destino. Enfim, se no seu carro antigo não entra água, parabéns. Ou então, aguarde o próximo temporal.

Já o Dodge era outra história. Entrava água como se o carro estivesse sem uma porta, ou como se um teto solar (que ele não tinha) estivesse eternamente aberto, e com isso qualquer garoinha besta era motivo para o habitáculo ficar ensopado - o que me faz pensar que esta foto aí do lado, de um Charger fazendo teste de infiltração na fábrica da Chrysler na década de 70, foi tirada só para dizer que este teste foi feito uma vez na vida e que, num sábio programa de redução de custos e economia de água, foi devidamente escorraçado do programa de testes da Chrysler, já que onde estava a fábrica alagava à toa mesmo, então seria fácil de saber o quanto entrava de água (aliás, conta-se que em algumas dessas enchentes vários carros prontos que estavam no pátio ficavam submersos na mistura água+barro+mato da enchente... e que a Chrysler dava uma bela lavada e vendia os carros assim mesmo, sem nem desmontá-los direito para uma limpeza minuciosa e troca de todos os fluidos. Por que será que tantos Dodges morreram de ferrugem?).

Mas voltando ao Dodge branco, era tanta água que entrava que me deu vontade (de verdade) de recolher a água para fazer alguma coisa de útil, como colocar no radiador, regar plantas ou passar um paninho no carro. A primeira vez que me deparei com esta memorável característica foi uma vez em que fomos Adriana, Walter, Dodge e este que vos escreve, para o meu amigo Chuva (sem trocadilhos, este é o apelido dele) e depois de algumas voltas por lá decidimos parar no posto para abastecer, algo muito comum num Dodge. Como o posto era um daqueles "abasteça 20 litros e ganhe uma lavagem automática" (daquelas com escova), não perdi uma oportunidade de um banho de graça na viatura, principalmente em vista que o salário de assistente técnico era quase todo consumido com gasolina, mecânicos e peças. Nós dentro do carro, fomos lá para a máquina de lavar com suas poderosas escovas rotativas e jatos de espuma. Foi só começar a bater água no carro que esta encontrou refúgio dentro do carro. A Adriana começa a gritar e rir, o Chuva a gargalhar, o Walter a fazer cara de bunda e eu tentando manter a pose, como se fosse o dono de um Aston Martin que está surpreso com isso... esguichava água pelas borrachas dos quebra-ventos, vãos das portas, por debaixo do painel, parabrisas, enfim, saimos de lá realmente molhados, mas dando risada - afinal era Domingo à noite, e de lá iríamos para as nossas casas, mudaríamos de roupa (certamente após um bom banho, pois dormir com cheiro de gasolina não rola) e iríamos todos dormir no aconchego de seus respectivos leitos.

Agora, quando usava o carro para trabalhar ou saía com ele e ficava molhado, aí não tinha graça. Eu charregava uma toalha de banho no carro (e depois duas) para enxugar o carpete e os bancos quando ia chover, e tinha uma porcaria de uma goteira em dois cantos das borrachas dos parabrisas que estrategicamente pingavam na minha coxa esquerda e na coxa esquerda de quem estivesse como passageiro (aliás, a foto ao lado ilustra sutilmente como era a sensação de estar no Dodge durante aquelas chuvas típicas dos meses de fevereiro e março). Tentei de tudo para tirar o vazamento - massa de calafetar (ótimo para manchar pintura, mas inócua para o vazamento), silicone, cola, tudo o que se possa imaginar, mas nada funcionou. Troquei borrachas de porta pelo menos umas 2 vezes, e a borracha do porta-malas também pelo menos uma vez (essa até que resolveu, no que lhe era possível), mas o carro continuava um aquário. E o mais legal é que havia um par de borrachas que vedam os eixos dos limpadores de parabrisas, mas como elas ressecaram e desmancharam, a água praticamente vertia por ali para dentro do carro, parecendo uma daquelas cachoeiras chamadas de "véu da noiva"... e quem disse que se achava dessas borrachas para vender? Até aquela época, NADA!!! Então ficava por isso mesmo - pés molhados, cheiro eterno de gasolina queimada + carpete úmido, e assim o Dodge prosseguia. E como era brochante chegar no estacionamento depois de um dia de stress e encheções de saco em geral, e ver que os vidros do carro estavam embaçados porcausa da chuva de verão que molhou o carro (por dentro e por fora) e depois secou por fora, mas umedeceu o carpete por dentro, o que era comprovado ao tirar a(s) toalha(s) posicionada(s) estrategicamente no carro caso chovesse, e torcê-las do lado de fora como se tivessem sido mergulhadas num balde d'água. Era impagável a cara dos meus colegas de trabalho me olhando fazer isso no estacionamento enquanto eles saiam sequinhos e ligeiros com os carros sem graça deles.

É, isso era chato sim, mas rendeu histórias, como esta que compartilho com vocês.
(Momento Jabá: o meu amigo Chuva está vendendo uma perua Astra 95 branca, praticamente único dono, por um preço camarada. Se você estiver afim de um caror que futuramente - daqui há 14 anos - poderá receber placa preta, e é confiável, escreva para mim que eu repasso para ele. Senão, jamais saberás como é a emoção de ter um carro branco...rs)

domingo, 17 de abril de 2011

Amigo da Onça - Parte 3

Oi gente,

Novamente fui severamente cobrado pelos (3) leitores deste blog sobre a continuação das histórias do "Amigo da Onça", então sem mais explicações ou inócuos pedidos de desculpas, escrevo desta vez sobre uma das coisas mais memoráveis deste Dodge Dart branco - a parte elétrica.

O sistema elétrico do Dodge parece ter sido projetado seguindo a mesma filosofia do time de futebol da Portuguesa de Desportos - onde basta você contar com ele(a) e com quase 100% de certeza você vai ficar na mão. Ele não era daqueles carros em que se dava seta e acabava-se acendendo os farois, mas que demonstrou, entre outras coisas, ser um consumidor voraz de baterias (e não somente de gasolina). De certa forma, este Dodge teve um papel social bastante grande pois foi com ele que garanti o sustento de mecânicos, pude proporcionar a um dos funileiros recursos suficientes para mudar para uma sede própria, o custeio da faculdade de medicina da filha de um pintor, além de ter tirado da insolvência pelo menos uma casa de baterias.

Bastava deixar o carro parado por uma semana que, ao ligar, era a sequência de "nhec nhec nhec nhec". "nhec nhec nhoc nhoc nhóooc". "nhóooc nhóooc nhunk nhúnk nnhhúnk" "téc". "téc". E mais uma bateria de 60A (e R$180 em valor atual) precisaria de recarga, senão troca, o que era algo bastante frequente. Não adiantava colocar gasolina no carburador, pisar no pedal de acelerador, desligar a bateria do carro ou ter uma plantação de arruda no lugar do banco traseiro, esse era o infeliz modus operandi do sistema elétrico deste carro; isso quando ele se manifestava pois muitas vezes nem luzes no painel ele acendia, e parecia ficar com aquela cara de cachorro que sabe que vai ao veterinário ou então que não quer tomar banho. Cheguei a trocar alternadores, reguladores de voltagem, comutadores de ignição, módulo de ignição eletrônica, chicote de motor de arranque, mas nada resolveu.

Mas... repararam que no segundo parágrafo eu não mencionei nada sobre eletricistas? Não foi à toa pois, infelizmente não conheci nenhum até hoje que não fosse preguiçoso com o Dodge, ou então enrolado até onde a imaginação possa levar. A história era sempre a mesma - alguém recomendava um eletricista, dizendo que o cara era fenomenal, "que havia refeito o chicote de um Opala Diplomata zéééééro" de um Boeing 747 e se bobear até de disco voador. Careiro? "nããão, cara bom e de preço bacana". Ao chegar lá, explicava o problema do carro ao cidadão, e falo sem dó: "Amigo, pode arrancar o chicote todo e fazer um novo. Não tem problema de prazo e nem de preço, só quero que o carro fique bom." Ia para casa, e um dia ou dois depois ouvia a ligação: "O carro tá pronto, pode vir." Desconfiado (e outras vezes, já conformado), chegava lá e o carro continuava com o mesmo chicote. Intrigado (e nas demais vezes, já conformado e broxado emocionalmente com a situação), perguntava "Ué, mas e o chicote não foi trocado? E se o problema voltar??" ao que recebia como resposta "O chicote do carro está bom, era só uma fuga de corrente." E logicamente, a conta ficava baratinha... o serviço continuava porconildo... mas por ser barato, nenhum eletricista conseguiu acabar com meu orçamento, ao contrário dos demais profissionais supracitados.

Tal qual a Lusa, se você não prestasse atenção nele, era só virar a chave e pegava de primeira, além de funcionar perfeitamente. Mas era só contar com ele, achar que estava tudo legal (principalmente quando o Dodge era a ÚNICA opção de locomoção, por qualquer motivo), e ele fazia questão de te deixar na mão, principalmente num lugar que não fosse em casa. E, pra variar, com os outros ele funcionava direitinho... dá para entender? Ô carro de fases!