Compartilhando o significado de ter um carro antigo... ou mais de um!

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Puma GTB - um carro de comportamento selvagem

O Puma GTB é o tipo de carro que te faz esquecer o que é ter prudência. Há muito tempo não o dirigia e, agora que ele "voltou ao normal" com o câmbio e mecânica originais no lugar, eu reparei que havia me esquecido completamente como era a sensação de andar neste carro - e sim, ele é selvagem. 

Cara de mau. Mas um "mau com classe".
Fui buscá-lo e após me ajustar nos bancos relembro como ele é baixo. Bem baixo, a ponto de não fazer sentido a expresão "descer do carro", para substituí-la por "subir do carro". Viro a chave, e o motor de Opala 6 cilindros 250-S ronca sem dó nem paciência. Os instrumentos que estão no painel (ah, se arrependimento matasse...) iluminam bem - tão bem a ponto de parecer que dirijo uma espaçonave. Engato a primeira, com engates duros mas precisos e saio, com o carro chacoalhando do motor frio, e chego na avenida.

Bonito sem ser fresco.
 Acelero para pegar a avenida e junto com ela vem cantada de pneus, saída de traseira e um ronco de motor como quem diz "hoje eu estou irritado". Endireita daqui, tira o pé dali e seguimos em frente. Um barulho no lado direito dá a entender que tem algo raspando, pode ser freio que esqueceu como é funcionar depois de tanto tempo parado. Ligo o som, e sou saudado com uma incômoda interferência, que depois se transforma num ensurdecedor mau contato, que me faz desligar o rádio correndo. Ah, maldita hora que eu cismei de mexer neste carro! Chego no prédio. "Ah, saco. O portão de trás não funciona a esta hora.", lembro ao pegar o aparelho. Mas daí, puf! O carro morre... e o motor de arranque não vira. Tento uma, duas, três vezes... e o motor de arranque vira, só que o motor não dá partida.
 
O motor nervoso que move o veículo.
 "Ô merda, não me vai pifar a uma hora dessas!", penso eu cansado, irritado com os probleminhas do carro e louco para ir ao banheiro. Tento mais algumas vezes e vou à pé para a garagem pegar um litro de gasolina que deixo para eventualidades como essas (quem tem carro antigo sabe como é), pensando "Corno do Henrique, custava colocar mais gasolina??". Cologo combustível no tanque, um pouco no carburador e ele liga! Mas logo em seguida morre. Faço isso mais umas duas vezes e nada dele funcionar, provavelmente por estar inclinado na rampa. Desço do carro com muita raiva, xingo a ele, ao mecânico e a mim mesmo, e aparce o porteiro do prédio, que gentilmente abriu o portão fora de horário só para eu entrar com o carro e colocá-lo na garagem. No plano, foi virar a chave e, pronto, ele funcionou. Guardei-o na vaga (lógico que ele morreu ANTES de chegar na vaga), e fui para casa finalmente "desaguar" e dormir - fedido de gasolina, cansado e planejando vendê-lo por qualquer coisa, até por um passe de ônibus.
  
Personalidade em todos os ângulos.
Dia seguinte, cabeça mais fria e planos mais concretos. Separo o rádio para instalar no lugar da parafernália sonora e ruidosa que está nele, e vejo o telefone de quem troque os instrumentos "árvore de natal" pelos originais (os quais continuam guardados). E enquanto lembro que preciso falar com o vidraceiro para ajustar o vidro da porta do motorista, pego ele para dar uma volta e tirar umas fotos e assim, facilitar a busca de um novo proprietário para ele. A porcaria do cinto de segurança não sai do lugar, então vou assim mesmo. Liga, anda, morre, liga de novo, anda de novo e sai do prédio. Dobra a esquina e sobre a rua num ímpeto que me fez lembrar porque eu acabei comprando ele. Paro o Puma para as fotos e as pessoas que passam a pé, nos seus carros ou mesmo os aprendizes de motoristas que por lá fazem suas aulas torcem os pescoços para vê-lo e admirá-lo. Tiro com as mãos a poeira dos bancos, tiro algumas fotos e saio dali em direção ao posto de gasolina para colocar "direito" gasolina nele.

E que neblina!
E quanto mais ele acelera, para, vira e segue reto, melhor fica a relação entre nós, ainda que entumescida de desconfiança de ambos os lados. Com o Puma abastecido e com água no radiador, voltamos para casa e lá fica ele, na garagem, cada qual com uma sensação de que há ainda tanto o que fazer, mas muito o que aproveitar. Que saudade de toda essa selvageria e elegância que faz com que qualquer "Camaro amarelo" pareça carro de menino. Que vontade de consertar tudo e ficar com ele para sempre, e tentar mostrar para o mundo que dá para ser diferente - basta querer. Mas daí vem a consciência e lembra de várias coisas - dos outros carros que também precisam de atenção, de tudo que precisa ser feito no Puma para ficar "ao meu gosto" HOJE, e que além de selvagem, ele é um carro ciumento, exigindo toda a atenção e cuidado para ele. Então, melhor esperar mesmo que venha alguém que se encante por este Puma como eu, e que pague o valor que ele merece e assim, se dedique a ele como lhe é merecido. Mas da mesma forma que uma viagem de férias inesquecível, vou me lembrar deste carro com um sorriso no rosto.


E eu nem me lembrava como era sentar em bancos Recaro...