Compartilhando o significado de ter um carro antigo... ou mais de um!

domingo, 24 de janeiro de 2016

Trabant, ou melhor, Elke Wunderbar

Um Trabant 601 Universal. Ou a Elke Wunderbar.
O Ebay é a perdição dos seres humanos, pelo menos daqueles que colecionam coisas e tem amigos que fazem o mesmo. Um dia, com a cabeça povoada de ideias pouco sãs, decidi ver os preços dos Trabant - este carrinho que é símbolo da Alemanha Oriental, que ocupou a então Alemanha Ocidental por algumas semanas carregando uma multidão de alemães curiosos depois de anos separados por um muro sem sentido. E este mesmo veículo que meses depois da queda do muro era encontrado em caçambas de lixo, abandonado nas ruas ou então era vendido a preço de uma cerveja (que aqui é mais barata que Coca-Cola). Pude notar o salto de preços em relação ao ano passado, e cogitei mais seriamente a hipótese de comprar um, antes que os preços chegassem ao céu - como estão hoje as VW Kombi ("Pão de Forma" para os amigos de Portugal), Dodge Dart e mesmo carros mais novos, copmo o VW Gol GTS/GT/GTi, Santana, Chevrolet Kadett GS/GSi e Escort XR-3, acompanhados dos Chevrolet Monza S/R e Classic. E numa caçada um tanto descompromissada, encorajada por uma ou duas cervejas, achei esta peruinha 1988, da foto aí em cima, e num preço bem convidativo. No meu alemão sofrido, combinamos a data para ir vê-la e, ao ver a peruinha, foi negócio fechado. Pois é, meus amigos. A Trabant 601 Universal ano 1988 era agora Elke Wunderbar, a mais nova integrante desta grande família de metal, óleo e tecido.

Interior da Elke. Apertado, mas os bancos são confortáveis. 
Interior e painel da Elke. Simplicidade e simpatia alemãs orientais.
Dois cilindros, 26 cv... uma simplicidade só. O bacana é que funciona!
O ex-proprietário, um mecânico meio doido e colecionador da cidade de Prettin (a 180 Km de Berlim) é um cara simpático e acumulador de itens outrora esquecidos e hoje culturados da DDR - de tempos em que o mundo era dividido claramente entre "nós" e "eles" e mal podíamos imaginar como éramos parecidos em tantas coisas.

Um Trabi Kübelwagen, com motor VW 1.1l original. Ao fundo, uma Barkas B1000 que era do corpo de bombeiros.
A perua Barkas B1000, ex-bombeira.
Um Trabi 601 sedan (aqui chamado "limousine") e uma Trabi 601 Universal.
Uma linda Schwalbe KR51 perdida no meio da zona.
Uma moto Simson e uma bicicleta Diamant.




Está bom assim ou quer mais "bagunça"?
Por ser mecânico de profissão, combinamos um negócio combinado, em que ele entregaria a Elke em casa e levaria o Frank para o conserto (lembram do penúltimo post? O link está aqui) e retorno à ativa - pois foi ela quem puxou o Wartburg pifado para cima, a despeito do que dizem os detratores do seu pequeno mas disposto motor de 2 cilindros, 2 tempos e 660 cm3, que geram corajosos 26 cavalos de potência. Enganam-se aqueles que pensam que ela não tem fôlego, pois ela acompanha bem o trânsito e tem até que um bom nível de conforto, ainda que o espaço interno seja bastante frugal, o nível de ruído faça com que a ideia de um rádio seja descartada, e o acabamento faça lembrar o que significa o conceito de "carro popular". Ela vai numa boa até os 90 Km/h e, com esforço ela chega (gritando) até 110 Km/h. Fui recentemente "premiado" com uma junta de cabeçote queimada, defeito comum aos Trabant e que, felizmente, é muito fácil de ser consertado e não requer ferramentas especiais - o fator limitante no caso é a garagem e o bom humor do zelador.
Elke chegando em casa.


Elke e Schwalbe, em casa.
Ah, e o Wartburg? Teve um contratempo no conserto, precisando voltar para a oficina mas ficou pronto depois do Natal, e desta vez contando com ignição eletrônica original IFA. Tirando o fato dele ter ficado meio "esquentadinho" (o ponteiro do termômetro às vezes flerta em chegar no campo vermelho, mas depois volta ao meio), ele está muito bom. Inclusive ele teve a oportunidade de ser abastecido com gasolina já misturada com óleo 2 tempos, uma raridade atualmente mas muito comum quando a grande maioria dos carros na Alemanha Oriental era composta por veículos com motor 2 tempos. Porcausa do inverno, ele está guardado na garagem até a neve e o sal saírem das ruas e a primavera se firmar.
Bomba de combustível vendendo gasolina já misturada com óleo 2 tempos, na proporção 1:50. E de brinde saiu o reflexo do rosto do meu amigo Raphael no vidro da bomba. 
O motor do Frank, consertado e com ignição eletrônica instalada.