Compartilhando o significado de ter um carro antigo... ou mais de um!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Trabant - impressões ao dirigir

Recentemente fiz uma viagem de férias em que realizei alguns sonhos que há muito tempo me rodearam - um deles era o de conhecer Berlim, e o outro que era dirigir um Trabant P60. Berlim é definitivamente a cidade mais legal que já conheci, por ser fascinante e moderna sem ser opressora, e com tanta história de conquistas e derrotas mas sem que isso torne a ela ou aos habitantes pessoas rancorosas. Muito pelo contrário, eles foram muito prestativos e bem humorados, principalmente ao se considerar a fama da rispidez alemã, apesar dos temas "Alemanha Oriental" e "Muro de Berlim" ainda serem um certo tabu para os habitantes comuns de lá  (crianças que leem a este blog: se não sabem nada sobre Alemanha Ocidental nem Oriental, Guerra Fria e COMECON, façam uma gentileza para vocês mesmos - LEIAM A RESPEITO! O mundo não se resume a iPad e Facebook.).

E o que dizer do Trabant P60? Este ícone da Alemanha Oriental e dos tempos em que existiam dois mundos, guerra fria e "cortina de ferro", ao contrário de trazer imagens de competição e medo, vem com uma aura de simpatia e ternura no formato de sedã 2 portas, de cor azul celeste e motor de dois cilindros e dois tempos. Num mundo onde os veícuos tem tanta tecnologia de segurança e conforto que tornam dirigir uma atividade enfadonha, ver um Trabi ali, bem pertinho, traz imediatamente um sorriso ao rosto e um deseho que o mundo fosse, pelo menos em alguns aspectos, um pouco mais simples. E ao vê-lo vem a primeira surpresa: ele é menor ao vivo. Certamente menor que um Fiat 147, ele tem espaço interno suficiente para duas pessoas e duas crianças de até 10 anos. Mais que isso, brinque de sardinha em lata, pois ele é bem apertadinho MESMO, agravado pelas caixas de rodas dianteira e traseira invadirem a área da cabine e achatando as pernas do motorista e passageiros para os lados. É impressionante mas... ele conseguiu ser menor que um Gordini! Mesmo assim, fizemos a experiência de dirigí-lo por Berlim Oriental em 5 pessoas, para certa surpresa do dono (?) da agência (?) de aluguel de Trabant.
 
E alguém ainda tinha dúvida que isso ia dar certo?

Antes de enviar todo o mundo dentro do valente Trabant, abro a torneira de combustível, dou partida e dou duas voltas no estacionamento para avaliar o comportamento do carro e pegar os "macetes" de como frear sem ter freios a disco ventilados, trocar as 4 marchas na confusa alavanca na coluna de direção "fora de padrão" e acostumar com o peso da direção, que é relativamente pesada para um carro tão leve. O pequeno motor bicilíndrico de 2 tempos e refrigerado a ar se assemelha muito a motores de motocicletas (grandes) antigas, com seus 850 cm3 e 26 cv. Mesmo parecendo pouco, o motorzinho dá conta do recado, graças à simplicidade do carro, que não conta nem com bomba de combustível (a mistura de gasolina com óleo 2 tempos desce do tanque para o carburador por gravidade, como nas motocicletas), uma reguinha no lugar do marcador de combustível no painel, e pneus tão finos que parecem ter vindo de alguma carriola de pipoca.

 Com todos a bordo, lá fomos nós ao passeio. Mesmo com tantos por lá, ele chama a atenção por onde passa, ainda mais com cinco pessoas dentro dele, sendo uma delas no colo de outras duas. Até as barbeiragens intoleráveis para os motoristas de veículos modernos são perdoadas quando quem as cometeu (no caso, eu) estava ao volante do Trabant. Velocidade não era o problema para ele, mas chegar à imobilidade sim era um desafio - os freios a tambor dele se aqueceram com relativa rapidez e perderam eficiência antes do previsto, o que impediu maiores audácias. Num trecho urbano não foi possível avaliar a estabilidade dele, mas não pareceu nada de outro mundo, e a suspensão dele absorveu bem os poucos obstáculos a que foi submetida. A troca de marchas era confusa porcausa dos movimentos pouco usuais para ele, em relação a outros carros com alavancas de marcha na coluna de direção - normalmente, "puxa-se" a alavanca para engatar as menores marchas e vai-se "empurrando" e engatando para as marchas maiores, mas no Trabi isso é ao contrário e então até lembrar que a terceira marcha era engatada puxando-se a alavanca para frente, já havia passado o ponto de trocar de marcha. Difícil mesmo foi suportar o calor dentro dele, já que as janelas traseiras não basculam e a capa de pelúcia dos bancos não refrescaram o dia de muito sol que fazia lá em Berlim.

Dá para ter noção do aperto que estava dentro dele?

Tudo ia (quase) bem até o carburador entupir e o carro decidir afogar. Daí a diversão virou um saco, com o pobre Trabi morrendo a cada parada no semáforo e não tendo força direito para sair do lugar. Culpa do carro? Não, sem dúvida ele é um valente. Do motorista? Pouco provável. Do combustível sujo e do óleo 2T utilizado? Tem todo o jeito que sim. Ao devolver o carro, o rapaz explicou para o meu amigo que compartilhou comigo e as outras pessoas deste passeio, que este problema não era entupimento, "mas sim bomba de combustível falhando, afinal ele era um carro preparado para o inverno e não para dias tão quentes". Balela. Se o Trabi não tem bomba de combustível, como é que ela ia dar problema??? Fim do percurso, todo o mundo desce com um sorriso no rosto. Eu, por ter dirigindo um Trabi nesta cidade tão icônica. Os demais, por conseguir sair do carro para se alongar e esticar as pernas. 

Resumo da ópera. O Trabant é tosco? Sim, ele é tosquinho, tadinho, mas tem uma alma muito boa e estilo único. Merece a alcunha de "Pior carro do mundo", que foi dada logo após a queda do Muro de Berlim? Não, tem carro muito pior que ele, como os veículos franceses contemporâneos em projeto. Eu teria um? Sim, teria e o utilizaria quase que diariamente pois ele é pequeno, ágil, econômico e, se quebrar algo, é muito fácil de arrumar. O negócio complica ao se pensar que há itens de conforto hoje que fazem diferença e que ele não possui - como desembaçador traseiro e ventilação interna forçada (direção hidráulica e ar condicionado só se for em sonho). Dá vontade de trazer um para cá e chamar de meu, mas para isso tem que achar um bom, bonito e barato lá na Alemanha, e isso obriga a recorrer à boa vontade alheia, o que pode nem sempre é possível ou eficaz... e também há outros projetos na frente como terminar a Manuela, o Wenceslau e o Don, vender o Puma GTB (Quer comprar ou sabe quem queira? Os fundos obtidos "possivelmente" serão revertidos no projeto Trabi Brasil 2013), começar a restauração do Irineu e, ainda por cima, pensar com carinho na ideia de montar uma Chevrolet C-10 com motor V8 350 ... como são muitas "crianças" para dar atenção, para tempo e dinheiro limitados, algumas prioridades devem ser definidas antes de qualquer decisão a respeito, mas quem sabe... sugestões são sempre bem vindas.

Quer saber mais sobre o Trabant P60? Clique Aqui, em Inglês ou vá à página abaixo, no Wikipedia em português: http://pt.wikipedia.org/wiki/Trabant

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3 comentários:

  1. Querido Lusao/Luzao: como é gostoso ouvir a descricao de uma coisa ou um fato, por quem conhece do assunto. Sempre limitei meus comentários ao Trabi a : "Ah, que bonitinho..." Havia tanto mais para falar, e eu nao sabia. Obrigada por nos ter levado juntos nesta aventura. Dois anos morando aqui e ainda nao tínhamos ousado. Valeu esperar. Nao poderia haver melhor companhia (e motorista)! PS: Estamos às ordens para ajudar a procurar um bom, bonito e barato. Mas tem que ser logo... Bjs!

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    1. Andrea, querida amiga: quem tem que agradecer aqui sou eu, pois você e o Carlos fizeram de tudo (e mais um pouco) para que tivéssemos um passeio inesquecível aí em Berlim, e passear de Trabi foi, em parte, culpa sua também. E essa sua proposta é irresistivelmente irrecusável... antes de qualquer movimento impulsivo, deixe-me procurar (rapidamente) por um despachante aduaneiro que consiga trazer um carrinho destes para cá, e daí eu volto a importuná-los. E lembre-se: a Manuela está esperando a vocês e sua mudança de portas abertas quando vcs voltarem para cá. Bjs!

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  2. Ahhhh que legal que você descreveu esse super passeio espremido, digo, emocionante! hehehe

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