Compartilhando o significado de ter um carro antigo... ou mais de um!

sábado, 15 de julho de 2017

Bem vindo, Willy!

Idéias, pensamentos, desejos... eles sempre povoam nossas mentes, seja sobre o assunto que for. Na minha cabeça, entre diversas delas, era a de um Trabant. A venda da Elke, aquela peruinha azul, foi para mim algo meio mal resolvido, e vez ou outra me pegava pensando em comprar outro Trabi, ou pesquisando anúncios no Ebay Kleinanzeigen. Um dia, o Wartburg deu um problema (novidade, né?!), e comecei a procurar por outro Trabant. Acabei encontrando um ano 1987, cor cinza papiro, num preço bom e boas condições, e num anúncio um tanto discreto. Mandei algumas mensagens e marquei um encontro com a vendedora do carro, na casa dela. 

Era um sábado frio e úmido de primavera, eu estava de ressaca, e assim fui lá ver o pequeno alemão do bloco socialista... foi uma grata surpresa. Ele nunca havia sofrido nenhum tipo de serviço pesado, modificação ou dano estrutural, apenas uma leve colisão traseira que amassou o parachoque e uma parte do painel traseiro. Mas a história dele é que me encantou. Este Trabant era da avó da vendedora, que o comprou zero quilômetro em Potsdam, há 40 Km de Berlim, e lá viveu por muitos anos. Após 29 anos de bons serviços e correspondente bons cuidados, a proprietária de 86 anos já não tinha mais condições de dirigí-lo, e a família o colocou a venda. Mostraram-me todos os documentos dele - manuais de proprietário e de manutenção, livrete de concessionárias e de revisões, recortes de jornal sobre Trabant - e também uma caixa com peças e ferramentas da época. Tudo bem íntegro por dentro e por fora, apenas precisando de carinho. Fui para casa, refleti, e depois de uma semana eu voltei lá. 


Livro de reparos, manual do proprietário, livrete de serviços... tudo original do carro. (fotografado já em minha casa)
Interior do carro, com estas capas colocadas para proteger os bancos, e os tapetinhos dos tempos em que haviam artificialmente duas Alemanhas. 


Willy "de costas". Parachoque amassado, uma das poucas coisas a consertar nele. 
Quando ela me mostrou que achou também o extintor de incêndio original do carro, eu tentei me segurar, mas minha mão direita foi mais forte, e estendida, cumprimentei a vendedora em sofrível Alemão ao dizer "Ich kaufe es." ("Eu o compro"), dando a entender que o carro era meu. Fiz a transferência na hora, ganhei uma mesinha da DDR de brinde, e lá fui eu levar o carro para o estacionamento da empresa, para no dia seguinte fazer a inspeção para obtenção da placa histórica. Antes de sair, perguntei à vendedora e à mãe dela (filha e neta da proprietária, que hoje se encontra numa casa de repouso) se o carro tinha nome. Disse que não, mas que o avô dela se chamava Willy... e então como Willy este Trabant foi batizado. Tiramos uma foto juntos, elas tiraram mais algumas outras fotos e se deixaram emocionar com a despedida do carrinho que fez parte da vida delas por três décadas e lhes traziam tantas lembranças.

Mesinha típica dos início dos anos 70, na Alemanha Oriental.


Ulrique (a vendedora, neta da proprietária) e eu, no momento em que ela se despedia de Willy.
E para contar para a Adriana que eu comprei o carro? Se quando houve a venda da Elke, celebramos com pizza, desta vez fomos a um restaurante indiano "comemorar" a chegada do novo membro da família. 
Estamos felizes, né?
Foi seguindo aquele papo sobre amenidades, a vida e etc, e puxei a conversa sobre os Trabant... Para ajudar, tive a brilhante ideia de levar guardada no bolso uma miniatura de Trabant que tenho em casa, e contar enquanto almoçávamos. Tomei coragem... peguei a miniatura... e disse que "tinha novidades para contar". 
Mal sabia eu...
Não posso dizer que a reação foi inesperada, tampouco afirmo ter sido amigável, como mostram as fotos abaixo. 
Ela "adorou" a chegada do "irmãozinho de lata".

Confesso ter sido um exercício à minha diplomacia e à capacidade de argumentação. De qualquer forma, houve uma comida de rabo conversa amigável. 


 Ela "gentilmente me questionou" sobre minhas faculdades mentais, meu bom juízo e se mostrou curiosa em saber sobre minhas abordagens para as gestões financeira e de tempo, com dois carros antigos alemães orientais, sendo que um deles vive dando problema. 
Que tal um Trabant num pãozinho? Não pergunte por onde ela queria que eu o comesse...
Tentei melhorar as coisas ao presenteá-la com a tal mesinha, mas esta foi um paliativo pouco eficaz já que, apesar de bonita, não há espaço adequado para ela em casa. Ao menos um sorvete ajudou a "adoçar" a realidade...
Animada com o sorvete, e ansiosa para ver Willy. 
Seguindo com a vida, levei-o para a oficina e lá foi feita a revisão de carburador e freios, e fui buscar Willy no dia de aniversário de 30 anos dele, já com as placas históricas. Chegando em casa, convidei a Adriana para levá-lo até o estacionamento, e a rabugice inicial se transformou em simpatia - afinal, tem como não sorrir para um carro tão lúdico e ainda assim guerreiro, considerando os escassos recursos para construir carros na Alemanha Oriental? Seguimos os três - Eu, Adriana e Willy - alegres para o estacionamento, onde ficou guardado, protegido das intempéries e dos curiosos, até chegar a hora de ganhar um trato, e "colorir" com mais frequência as ruas de Berlim ("colorir" é uma licença poética, já que ele é cinza). 

Wartburg 353 e Trabant, juntos por alguns instantes. 
Nós três no estacionamento.
E aí, o que achou dele e da história? Comente, compartilhe, e aguarde pois em breve tem mais!

Um comentário:

  1. Du Pinho, já passou pela sua cabeça o que seus vizinhos devem pensar de você? Não qeu isso tem alguma importância em nossas vidas, mas aqui agora entre um insônia e outra me pego a pensar nisso após ler seu post, acho qie devem dizer, imaginando uma conversa entre vizinhos chegando juntos pela garagem,..... " Esse brasileiro só deve ser meio louco, vem pra Alemanha onde pode ter os melhores e mais sofisticados carros do mundo e fica comprando essas porcarias" Desculpe pela porcaria, mas acho que deve rolar uma conversa ou ao menos um pensamento desses....de qualquer forma imagino como a Adriana deve ter ficado feliz...Abçs

    ResponderExcluir