Compartilhando o significado de ter um carro antigo... ou mais de um!

domingo, 1 de maio de 2016

Elke precisando de vitaminas

Elke, a pequena peruinha de Zwickau, consegue ser grandiosa em diversos aspectos - desde seus espaços escondidos onde podem ser armazenados objetos diversos, até o seu comportamento de "amante argentina" que requer boa dose de atenção e de finanças pessoais. 

No dia 22 de dezembro de 2015, ela que trafegava tranquilamente decidiu ficar fraquinha, sem força para subir uma leve rampa ou acompanhar o trânsito da cidade. Percebi que o cilindro número um estava morno, enquanto que o número dois estava quente, na temperatura normal de trabalho. Depois de muitas pesquisas e algumas consultas, o primeiro diagnóstico - a ignição está falhando. Troquei cabos de vela, e mesmo assim se confirmou haver centelhas. Próximo passo era então trocar a junta de cabeçote, problema típico dos motores de Trabant, cuja junta quebrava e deixava escapar compressão. Tirei a capa de refrigeração do motor e realmente o cilindro parecia bem sujo, indicando vazamentos. 

Comprei peças, programei-me para trocar a junta de noite (após o zelador do condomínio voltar de seu compromisso noturno, e com isso não me encher a paciência) e, algumas noites depois a junta estava trocada... mas Elke continou igual. Próximo passo? Trocar a junta inferior do cilindro, que também estava muito suja. Sim amigos, comprei mais peças, ferramentas (como um torquímetro, cinta para instalação de aneis de pistão, chaves combinadas... e um extintor de incêndio, pois sabe-se lá o que poderia acontecer). Num domingo, tirei o cilindro e trouxe-o para o apartamento, afim de limpá-lo e trazer novos odores e cores ao meu lar. Sim, cores de graxa suja, poeira impregnada, óleo de limpeza (é, mais dinheiro gasto...), e a cor marrom que enfeitara então a bacia comprada especialmente para a finalidade.


Cilindro 1 (lado direito) mais sujo que o cilindro 2 (esquerda)
Troca da junta de cabeçote do cilindro 1
"Pé" do cilindro 1 bastante sujo de graxa, indicando possível vazamento.
Camisa e cabeçote do cilindro 1 removido. 


Cabeçote e camisa já limpos. Saiu tanta sujeira que acho que ficaram uns 100g mais leves. 


"Vista da oficina noturna". Nota: a temperatura média da garagem era de 7ºC a noite. 
Por alguma razão que a própria razão desconhece, tive a triste ideia de tentar tirar o pistão da biela, sem haver necessidade para tal. Parei no meio do caminho, mas não consegui colocar o pino do pistão de volta no lugar, então fui alguns dias depois numa loja de materiais de construção e ferramentas e comprei um parafuso comprido e porcas, e trouxe o pino de volta no lugar de onde eu não deveria tê-lo tirado.  
Vista panorâmica do motor sem o cilindro 1 e com metade do pino do pistão para fora.
Pistão do cilindro 1, com o pino para fora.
Instalação do pino do pistão, já no lugar correto. 
Compressão do cilindro 1. No limite mínimo, mas ainda no limite. 
Cilindro instalado, mas problema persistindo... já cabisbaixo e macambuzo, decidi medir a compressão dos cilindros, esperando pelo pior. Felizmente, apesar da pressão um pouco baixa ela ainda estava dentro do especificado (no limite mínimo, fato, mas ainda dentro do aceitável). Cocei a cabeça, estranhando muito aquilo... só restava mesmo ser ignição. Neste interim, a bateria pediu aposentadoria por tempo inativo, tendo uma nova bateria no lugar.

Motor quase montado

Eis que numa noite, conversando com um amigo que acabou vendo o carro, ele apontou para um grupo de fios de aterramento e disse para eu ver aquilo lá, pois não parecia direito. Pois bem, como parte do plano eu troquei as bobinas e também dei uma mexida naqueles fios... e Elke voltara à vida! Wunderbar!!! Animado após três meses de errante investigação e tentativas frustradas de solução do problema, montei todos os periféricos do motor de volta, e no dia seguinte guardei o pequeno monte de ferramentas e peças que havia dentro dela e levei-a para o estacionamento. A força havia voltado, como se ela tivesse tomado as vitaminas corretas, sentindo-se novamente disposta. O comportamento dela foi muito bom, acompanhando o trânsito e animando os berlinenses orientais que a viam circular pela cidade naquela fria noite de fevereiro. 


Tudo sujo, mas funcionando!

Tudo no seu devido lugar, e com filtro novo.
O pequeno carburador, que receberá um tratamento decente. 
Trafegando com a Elke na Leipziger Strasse. 

O carburador teimou em não manter a marcha lenta, provavelmente sujo de tantas intervenções no motor e do tempo parado, mas ela seguiu bem até o lado ocidental de Berlim, passando pelos tradicionais pontos turísticos e "atravessando o muro" ou melhor, o local onde jaz a lembrança que toneladas de concreto e aço separaram a cidade e a vida de tantas pessoas em mundos tão distintos. Chegamos felizes à garagem, onde ela ficou guardada e esperando a chegada da primavera e a certeza de tempos sem neve e gelo nas ruas. O carro de uso diário ficou contente também ao saber que voltaria a "dormir" na garagem, e em muito breve receber um merecido banho. 

Fazia frio, garoa, mas ela (até que) se comportou bem. 

Elke na sua "vaga cativa", sã e salva.
"Rudolf", o carro de uso diário, feliz em poder usar a vaga novamente. 
Amigo leitor, você acha que acabou por aqui? Rá! Errou!!! Três semanas depois, quando decidi colocá-la para rodar o problema voltou, e-xa-ta-men-te igual a antes... pelo menos agora dá para se concentrar na ignição como solução do problema. E tem outra - acabei esquecendo de fechar a torneirinha de combustível e portanto transbordou gasolina pelo carburador, logo o que não estava bom deve ter ficado ainda pior. Acho que a Elke vai para o médico antes do que eu imaginava. 

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