Compartilhando o significado de ter um carro antigo... ou mais de um!

terça-feira, 19 de abril de 2011

Amigo da Onça - parte 4

Considerando que fiquei um certo tempo sem escrever, decidi brindá-los com mais uma parte das histórias sobre o querido Amigo da Onça, que de tão conhecido não precisa nem ser descrito mais como um Dodge Dart 4 portas ano 75. Se no post anterior eu falei sobre problemas elétricos, então neste eu falo sobre o maior amigo (ou inimigo) da eletricidade - a água.

Antes, devo fazer uma nota de esclarecimento: entra água em todo o carro antigo. Pode ser um Rolls-Royce, Ferrari, Fusca, Opala ou carro anfíbio, não tem jeito. É só dar uma chuva mais forte que o normal que você vai ganhar alguns pingos d'água nos pés ou no braço, vindo de borrachas ressecadas em geral, ou daquela ferrugem que ninguém vê (nem o funileiro, muito menos você), ou então pela falta daquela bendita peça que o pintor esqueceu de montar de volta. Aliás, quanto te dizem "não saio na chuva com esse carro" não é só um sinal de zelo pelo veículo antigo, mas também falta de vontade de ter que passar pano no carro ao chegar no destino. Enfim, se no seu carro antigo não entra água, parabéns. Ou então, aguarde o próximo temporal.

Já o Dodge era outra história. Entrava água como se o carro estivesse sem uma porta, ou como se um teto solar (que ele não tinha) estivesse eternamente aberto, e com isso qualquer garoinha besta era motivo para o habitáculo ficar ensopado - o que me faz pensar que esta foto aí do lado, de um Charger fazendo teste de infiltração na fábrica da Chrysler na década de 70, foi tirada só para dizer que este teste foi feito uma vez na vida e que, num sábio programa de redução de custos e economia de água, foi devidamente escorraçado do programa de testes da Chrysler, já que onde estava a fábrica alagava à toa mesmo, então seria fácil de saber o quanto entrava de água (aliás, conta-se que em algumas dessas enchentes vários carros prontos que estavam no pátio ficavam submersos na mistura água+barro+mato da enchente... e que a Chrysler dava uma bela lavada e vendia os carros assim mesmo, sem nem desmontá-los direito para uma limpeza minuciosa e troca de todos os fluidos. Por que será que tantos Dodges morreram de ferrugem?).

Mas voltando ao Dodge branco, era tanta água que entrava que me deu vontade (de verdade) de recolher a água para fazer alguma coisa de útil, como colocar no radiador, regar plantas ou passar um paninho no carro. A primeira vez que me deparei com esta memorável característica foi uma vez em que fomos Adriana, Walter, Dodge e este que vos escreve, para o meu amigo Chuva (sem trocadilhos, este é o apelido dele) e depois de algumas voltas por lá decidimos parar no posto para abastecer, algo muito comum num Dodge. Como o posto era um daqueles "abasteça 20 litros e ganhe uma lavagem automática" (daquelas com escova), não perdi uma oportunidade de um banho de graça na viatura, principalmente em vista que o salário de assistente técnico era quase todo consumido com gasolina, mecânicos e peças. Nós dentro do carro, fomos lá para a máquina de lavar com suas poderosas escovas rotativas e jatos de espuma. Foi só começar a bater água no carro que esta encontrou refúgio dentro do carro. A Adriana começa a gritar e rir, o Chuva a gargalhar, o Walter a fazer cara de bunda e eu tentando manter a pose, como se fosse o dono de um Aston Martin que está surpreso com isso... esguichava água pelas borrachas dos quebra-ventos, vãos das portas, por debaixo do painel, parabrisas, enfim, saimos de lá realmente molhados, mas dando risada - afinal era Domingo à noite, e de lá iríamos para as nossas casas, mudaríamos de roupa (certamente após um bom banho, pois dormir com cheiro de gasolina não rola) e iríamos todos dormir no aconchego de seus respectivos leitos.

Agora, quando usava o carro para trabalhar ou saía com ele e ficava molhado, aí não tinha graça. Eu charregava uma toalha de banho no carro (e depois duas) para enxugar o carpete e os bancos quando ia chover, e tinha uma porcaria de uma goteira em dois cantos das borrachas dos parabrisas que estrategicamente pingavam na minha coxa esquerda e na coxa esquerda de quem estivesse como passageiro (aliás, a foto ao lado ilustra sutilmente como era a sensação de estar no Dodge durante aquelas chuvas típicas dos meses de fevereiro e março). Tentei de tudo para tirar o vazamento - massa de calafetar (ótimo para manchar pintura, mas inócua para o vazamento), silicone, cola, tudo o que se possa imaginar, mas nada funcionou. Troquei borrachas de porta pelo menos umas 2 vezes, e a borracha do porta-malas também pelo menos uma vez (essa até que resolveu, no que lhe era possível), mas o carro continuava um aquário. E o mais legal é que havia um par de borrachas que vedam os eixos dos limpadores de parabrisas, mas como elas ressecaram e desmancharam, a água praticamente vertia por ali para dentro do carro, parecendo uma daquelas cachoeiras chamadas de "véu da noiva"... e quem disse que se achava dessas borrachas para vender? Até aquela época, NADA!!! Então ficava por isso mesmo - pés molhados, cheiro eterno de gasolina queimada + carpete úmido, e assim o Dodge prosseguia. E como era brochante chegar no estacionamento depois de um dia de stress e encheções de saco em geral, e ver que os vidros do carro estavam embaçados porcausa da chuva de verão que molhou o carro (por dentro e por fora) e depois secou por fora, mas umedeceu o carpete por dentro, o que era comprovado ao tirar a(s) toalha(s) posicionada(s) estrategicamente no carro caso chovesse, e torcê-las do lado de fora como se tivessem sido mergulhadas num balde d'água. Era impagável a cara dos meus colegas de trabalho me olhando fazer isso no estacionamento enquanto eles saiam sequinhos e ligeiros com os carros sem graça deles.

É, isso era chato sim, mas rendeu histórias, como esta que compartilho com vocês.
(Momento Jabá: o meu amigo Chuva está vendendo uma perua Astra 95 branca, praticamente único dono, por um preço camarada. Se você estiver afim de um caror que futuramente - daqui há 14 anos - poderá receber placa preta, e é confiável, escreva para mim que eu repasso para ele. Senão, jamais saberás como é a emoção de ter um carro branco...rs)

Um comentário:

  1. Hahahahaha!!!!!
    No dia da lavagem achei que era um momento "Christine - o carro assassino" (morreríamos afogados!). Só havia uma flanelinha no porta-luvas. Simplesmente não tinha como enxugar. Fiquei de bunda molhada.

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