Comparar um Trabant 601 e um Fiat 126p mostra muito mais semelhanças do que diferenças entre os dois carros. A motorização de ambos já era obsoleta na época do lançamento deles – ambos com motores de dois cilindros refrigerados a ar, capacidade cúbica e potência similares (o motor do Trabant é baseado em dois motores dois tempos da Zündapp, dos anos 30; o conjunto motriz do Fiat 126 era uma pequena evolução do Fiat 500, de 1957) dão conta do recado dentro da proposta dos carros; ambos são pequenos (o Trabant tem praticamente o mesmo tamanho de um VW Up!, para ficar no mesmo padrão de comparação). Ambos foram feitos para poderem ser reparados pelos próprios proprietários, algo muito comum naqueles lugares e até o meio dos anos 1990 (nota: antes que alguém pense ou mesmo comente “ah, tá veeeendo como as coisas eram ruins no comunismo??”, lembremo-nos que Fusca, Chevette e Fiat 147 não eram assim tão superiores nesses aspectos, tendo limitações e necessidade de cuidados iguais – seja no Brasil, Alemanha (Ocidental), França ou Itália.
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Apesar da foto um tanto escura, dá para notar que o Trabant é ligeiramente maior que o Fiat. |
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O pequeno Fiat laranja praticamente some ao lado de um Golf! |
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Tem mais de um metro de diferença de comprimento entre eles |
Por dentro, eles são
espartanos em acabamento e acessórios, mas o Trabant tem bem mais espaço
interno (ou melhor, menos claustrofóbico), além de possuir um porta-malas que
permite de fato colocar (médias)
malas, enquanto o do Fiat 126p mal cabe uma mala e uma sacola. Os bancos
traseiros do Fiat são tão pequenos e o espaço para as pernas é tão diminuto que
ele deveria ser classificado como um 2+2 (onde o “+2” é para uso por crianças
ou em trajetos muito curtos; já no Trabant, dois passageiros se sentam com
mínimo conforto e considerável calor humano. Tanto num quanto noutro, o nível
de ruído interno faz com que o rádio tenha bastante trabalho para se fazer
ouvir, ou então que se console em ser um objeto de decoração no veículo.
E por fim, manutenção
e oferta de pecas... normalmente, não é problema para nenhum deles. Há muitas
pecas novas e usadas disponíveis na Alemanha, Polônia e Hungria (apesar da
qualidade menor das pecas húngaras, principalmente quando comparadas às pecas
de estoque antigo produzidas na ex-Alemanha Oriental). Para o Fiat 126p,
recomenda-se trocar o dínamo por um alternador, e a ignição convencional por
eletrônica (o alternador já está no radar; a ignição eletrônica, vai depender
da disponibilidade). Para o Trabant, colocar ignição eletrônica, que já veio no
Willy.
Ambos os carros são equivalentes, e oferecem bem aquilo que se propõem, guardadas as devidas limitações de projeto e da época. O Fiat é ideal para o uso no trânsito, para trajetos de até 20 Km por dia. O Trabant dá mais conforto (ou menos desconforto) para passeios mais longos, ainda que sem pressa. Lembrem-se que na época da Cortina de Ferro, famílias alemãs orientais e polonesas viajavam de férias por 2000 Km, em quatro ou cinco pessoas, bagagem pelo carro todo, e por vezes até puxando um pequeno trailer, seja num Trabant, Fiat 126p ou outro carro equivalente (como o Zastava 750 – o Fíco – que nada mais é que um Fiat 600 fabricado pela Zastava sob licença lá na Iugoslávia... na mesma fábrica de onde saiu este Fiat 126p).
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Trabant com um trailer chamado Qek Junior, e com um aerofólio de teto, para melhorar a aerodinâmica. Qualquer ajuda era bem vinda. |
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Fiat 126p com um trailer polonês, similar ao Qek Junior. |
Qual o meu veredito? Pessoalmente, prefiro o Trabant – como diz um amigo meu, este é um carro que “oferece tanto e pede tão pouco”. Como proprietário de Fusca, posso inclusive dizer que ele é superior a um Fusca 1300 – com desempenho similar, melhor consumo de combustível, espaço interno similar e dinamicamente mais ágil. Mas a preferência é em parte mais emocional do que factual, então outra pessoa preferir um Fiat 126p ao Trabant é algo perfeitamente factível e previsível. E você, prefere qual deles?