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Capa de revista de época. Seria um presságio? |
Vocês devem se
lembrar da falha súbita e misteriosa do meu Wartburg 353, que o fez passar por
mais uma visita inesperada ao Dirk, o mecânico (para relembrar, clique aqui e
releiam o post anterior). Ele ficou lá por mais três semanas, num mede daqui,
mexe dali e nada de solucionar o problema. Um dado momento, recebo notícias
ruins – depois de trocar de bomba de combustível por duas vezes, e de módulo de
ignição, a hipótese que sobrara era a troca do motor. Mais do que triste,
fiquei incrédulo com a solução pois o motor funcionara sem dar sinais típicos
de desgaste ou qualquer outro problema tipicamente mecânico que justificasse
esta troca, mas me conformei com o fato que esta poderia ser a solução final.
Com coração pesado, cabeça dolorida e conta corrente ameaçada, iniciei a caçada
a um motor bom e barato, o que acreditei ser relativamente possível para estes
carros, já que muitos foram abandonados à própria sorte após a queda do muro de
Berlim.
Achei uma porção de
anúncios a preços muito longe do que eu buscava, até que no sexto dia de busca
apareceu uma oferta de um motor marinizado, completo, por 300 Euros, e em
Berlim. Entrei em contato com o vendedor, acertamos a retirada e lá fui eu
buscar o que seria “a nova usina de força” do carro azul. Mas, e para pegar
este motor, como é que eu o transportarei? Daí, nada melhor que um carro hatch,
se você não tem nem perua (ou carrinha, se você é um leitor de Portugal,
Angola, Moçambique ou Cabo Verde) – rebate os bancos, retirei a tampa do
porta-malas, forrei tudo com papelões e cobertor para forração, e deixei o
carro pronto para no dia seguinte ir buscar o motor de lá do vendedor e leva-lo
para a casa/oficina.
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Motor praticamente novo, no porta-malas. |
Saí mais cedo do
trabalho, coloquei o endereço no GPS e depois de 60 Km em meio aos cafundós de
Berlim-Brandenburgo encontrei o local, que é uma oficina de barcos, e cujo dono
do motor estava se desfazendo dele para poder colocar um motor de popa, que num
barco pequeno é mais fácil de controlar do que um motor de automóvel adaptado.
Negócio fechado, motor carregado no carro, e recebo uma mensagem do Dirk,
dizendo:
“Luciano, boas notícias – depois de trocar a
bomba de combustível pela terceira vez, o carro funcionou. Dirigi-o por 10 Km e
ele funcionou perfeitamente. Se ainda não comprou o motor, não precise comprar
mais. Se já comprou, eu o compro de você pelo preço que você pagou”.
O que fazer depois de
ler uma mensagem assim? Eu preferi deixar a raiva de lado e pensei que é sempre
bom ter um bom motor de reserva, comprador por um bom preço. Cheguei lá,
descarregamos e guardamos o motor, e ele me explicou que também se sentia
inconformado em trocar o motor e decidiu tentar mais uma vez trocar a bomba de
combustível e deu resultado; como cortesia, ele trocou a graxa da caixa de
direção (que ficou bem mais macia do que estava), mais uma vez dirigiu o carro
por mais uns 10 Km, sem falhar, tossidas, engasgadas ou tremidas. Decidi deixar
meu carro no estacionamento na estação de trem de Blankenfelde (aquela mesma),
e ir para casa com o Wartburg. Tudo funcionou no carro perfeitamente, como deve
ser… até cruzar a cancela da estação de trem, e junto com ela começarem os tremeliques
e perda de força. Ele foi se revezando entre momentos de funcionamento normal e
de perda de potência, mas chegamos em casa. Escrevi inconformado para o Dirk,
mais para pensar junto com ele o que poderia ser, e cogitamos seriamente a
hipótese da natureza do problema ser metafisicamente pessoal entre eu e o
carro. Ainda assim, concordamos num “plano de ações” para a pesquisa de pane e
como (eventualmente) resolve-la. Mas daí, fica para um próximo post.
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Motor, já no quintal da casa dele, pronto para ser guardado. |
Então, já sabe: leia,
ria, comente e compartilhe. Em breve, mais histórias!
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