Compartilhando o significado de ter um carro antigo... ou mais de um!

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Botando um velhinho para rodar


O contrato de leasing do carro que usava diariamente estava chegando ao fim, e apesar dos bons serviços prestados, comprá-lo estava completamente fora dos meus planos, e isso acionou um plano que tinha há muito tempo – o de comprar um bom carro com o mínimo de dinheiro possível. Coloquei alguns requisitos: 1) custo do carro de no máximo € 1700, incluindo manutenção básica; 2) seguro de no máximo € 110 por mês no primeiro ano; e 3) veículo de procedência, com histórico e bem cuidado.

Depois de um mês de busca, achei um Skoda Felicia, ano 1997, de história semelhante à do Willy, o Trabant; o carro fora comprado zero-quilômetro pelo pai da senhora que o colocou a venda, e fez todas as revisoes na concessionária próxima à casa deles. Já aos seus mais de 90 anos e uma coleção de  pequenas colisões e riscos depois, o proprietário deixou de dirigir e acabou se mudando para uma casa de repouso, e como consequência o pequeno veículo Tcheco ficou a maior parte do tempo em repouso na garagem da casa, a ponto de só ter rodado 300 Km em um ano, do total de apenas 49700 Km nos seus 20 anos de existência. Quase que a mesma história do Willy, como você pode ler aqui ("Bem vindo, Willy"). Interessante notar que o Skoda Felicia foi o veículo de transição da Skoda como fabricante da antiga Tchecoslováquia para o posterior controle da Volkswagen, dando um grande salto de qualidade e sucesso da marca, sendo um carro de carroceria mais nova, mecânica Skoda ou Volkswagen como é o caso deste carro, mas estrutura do antigo Skoda Favorit. 
Carrinho fotogênico, de cor que o favorece e esconde as marcas de uma vida de poucos abusos mas diversas marcas. 
Cruzamento de um Versailles com um Gol Geração I, este é o Felicia. 
Ao ver o carro, tudo dentro do esperado – as marcas de um carro usado por fora se contrapuseram ao ótimo
estado do interior que apesar de sujo, condizia com um carro usado com carinho. Junto com o carro, uma pasta com todas as notas fiscais dos serviços realizados, nota fiscal de compra do carro e o manual do proprietário. Uma volta e também nenhuma surpresa, tudo funcionando como esperado num carro pouco rodado, mas parado há muito tempo. Com um pouco de conversa, chegamos ao preço de € 1000, incluindo os pneus de inverno - bem dentro da meta. As cotações de seguro variavam entre € 65 e € 113 ao ano, também dentro da meta. E veículo de procedência. Só faltou ter ar condicionado, mas aqui o calor só ataca para valer por 3 semanas ao ano, bem tolerável sem o equipamento.
 O dia da retirada, na casa em que habitou por duas décadas. 

Na estrada, ao retirar o carro, era nítido que ele estava carente de uso – apesar de conservado, estava duro, com suspensão barulhenta, e cheio de coisas dentro, coletadas pelo Sr Manfred por mais de 20 anos ao longo da propriedade deste Skoda. O motor VW 1.6 timidamente subia de rotação, enquanto o cambio estranhava tanto uso depois de tanto tempo, atrapalhado pelo pedal de embreagem tao alto que era difícil trocar as marchas sem dar tranco. O radio Blaupunkt original cantava ainda acanhado, estranhando o novo repertório. Ao chegar no prédio, meu vizinho vê o carro e comenta que se acostumara a ver carros bacanas na minha vaga, e agora ver um Skoda era "curioso"... para não ser agressivo com ele, contei um pouco sobre o carrinho e o preço pago, fazendo vê-lo de outra maneira, mais simpática. 

Willy e o BMW, novo, potente e caro demais para meu orçamento.
Willy e "Felicio", seu novo irmão. Pequenos, baratos e pagos!
Uma lavagem, aspiração, limpeza com panos úmido e seco, e a cara do carro já melhora bastante. No dia seguinte, enquanto Adriana limpava os vidros eu pintava as áreas com ferrugem, para enfrentar o inverno e a tóxica combinação de sal e neve à carroceria. Um abastecimento com gasolina Super Plus de 98 octanas fez alguns cavalos do motor voltarem à vida. E assim, a cada trajeto feito, ou serviço executado, melhor o “pequeno velhinho” se comportava, soltando-se e desempenhando melhor.  Após a troca de óleo e de fluido de freio, o carro ficou muito bom. Claro que ainda tem suas coisas de carro de 20 anos – as fechaduras do porta-malas e do bocal do tanque não funcionavam, e tiveram que ser substituídas, e a porta do lado do passageiro às vezes não destranca, impedindo o funcionamento das travas elétricas, mas já vai melhorando. A suspensão dianteira faz um barulho mais incômodo do que preocupante – entretanto, com a idade eu também passei a fazer barulhos que não fazia e nem por isso há qualquer problema de saúde.
Estrada vazia. Um ótimo remédio para carros "amarrados" pela falta de uso. 
Atestado de saúde do pequeno Tcheco, após 500 Km de serviços e cuidados. Nada como uma autoestrada sem limite de velocidade...
Depois de 5000 Km e com um trocadilho um tanto infame, "Felicio", este Skoda Felicia segue feliz e funcionando muito bem, ainda que dentro de suas limitações. Se não chega aos 200 Km/h com seus 75 cv, seu consumo médio é de apenas 14 Km/l (7,1 l/100 Km) entre cidade e estrada, nada mal para um carro cujo projeto é contemporâneo ao do Fiat Uno de primeira geração. O sedentarismo realmente é um problema, não só para as pessoas mas também para as máquinas. 

Porém, com a mudança de cidade e a perspectiva de mais viagens em estradas, este simpático Skoda foi anunciado e mudou de mãos, para ficar em Brandenburgo. A viagem de Berlim até Munique em Janeiro fez a decisão ser tomada pois mesmo se comportando bem na estrada, aquela não era a "praia" dele, e todos nós (Felicia, minha esposa e eu) terminamos a viagem bem cansados. A boa notícia é que ele foi para outro proprietário bastante zeloso, e no lugar dele, compramos outro carro maior mas nas mesmas condições e apenas cinco anos mais novo. 

Portanto amigo, não se assuste pela idade de um carro, tampouco pela quilometragem, tudo vai depender do uso que ele teve, como foi mantido, e o preço pedido. Botemos os “velhinhos de quatro rodas” para rodar! É mais econômico, ecológico e divertido!


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