Este post vai com atraso pois, ao fazer "upload" de fotos o meu computador travava e não dava para fazer mais nada. Com ele mais dócil hoje, nesta linda manhã de sol, relembro sobre a fria tarde/noite de Páscoa, após um almoço de família, em que comecei a relembrar várias coisas, e entre elas, bons momentos que tive com o Dodge. Na verdade, há algum tempoo venho lembrando destes momentos pois, desde que comecei a escrever sobre este famigerado veículo, muitas experiências foram relembradas, tanto ruins quanto boas, e que foram em boa parte transcritas aqui neste blog.
Se alguns perguntam por que fiquei tanto tempo com aquele carro se ele deu tantas dores de cabeça, podem ter certeza que foi por dois motivos - o primeiro é que ele me proporcionava prazer e contentamento enquanto o dirigia e mexia nele; o segundo, é porque sempre tive fé que ele ficaria melhor do que estava antes (o que de fato aconteceu) até ficar perfeito (o que realmente ficou longe de acontecer...).
Um dos melhores momentos que tive com ele foi uma vez em que fui para Mogi da Cruzes com ele numa sexta-feira à noite (vejam o post "Amigo da Onça parte 3") , só pela graça de dirigí-lo na configuração mais legal que eu poderia ter - câmbio de 4 marchas, carburador quadrijet, diferencial Dana, barra estabilizadora traseira, e comando de válvulas só um pouquinho mais alto. Apesar do cheiro, foi muito gostoso dirigir, numa sexta à noite, com a seleção de músicas que eu gosto, por alguns quilômetros, estando praticamente só eu e o carro na estrada. O Dodge parecia estar feliz passeando na estrada, numa média de 110 Km/h, reinando na rodovia Índio Tibiriçá, e cantando ao longo da estrada com o ronco produzido pelo seu motor V8. Parecíamos uma coisa só, agíamos em harmonia e nos entendemos de forma exemplar, como nunca antes. A temperatura de água não subiu, a luz do óleo ficou quietinha, farois, piscas, luzes, enfim, tudo funcionou como manda o figurino; depois de chegarmos a Mogi da Cruzes, paramos num posto de gasolina para comer um pão de queijo e tomar uma cerveja long neck (naqueles tempos em que havia tolerância para beber e dirigir), aproveitamos para colocar um pouco de gasolina e conferir que o nível de água do radiador continuou intacto, e seguimos de volta para São Bernardo do Campo, numa curta jornada igualmente prazerosa. Foram pouco mais de 150 Km muito felizes, e ao final desta estripulia, guardei-o na garagem e nos olhamos como se fôssemos cúmplices, grandes amigos que foram fazer uma boa farra juntos.
Outra vez memorável para mim foi quando o peguei na oficina (?) do Alaor após passar por uma boa revisão mecânica incluindo a troca de buchas de suspensão. O Dodge, mesmo com bancos ruins, muita bolhas de ferrugem aparentes e o famigerado "perfume" já descrito anteriormente, estava macio de andar, ágil e firme como nunca estivera comigo. Eu parecia um cachorro em churrasco tamanha a minha felicidade em dirigí-lo e notar que ele respondia, sem parecer uma carroça ou uma barca molenga, o motor respondia com a agilidade que lhe era permitida, e o câmbio de 3 marchas respondia às trocas de marcha na mesma medida em que se tomava cuidado ao se passar de primeira para segunda sem encavalar (defeito comum entre Dodge, Opala e Aero Willys). Contornamos a estradinha do Riacho Grande até a Via Anchieta de forma ágil e constante, e trafegamos pela rodovia como reis da estrada - mesmo que não fôssemos de facto, a sensação era fenomenal pois finalmente realizava meu sonho de adolescente de ter um Dodge Dart só para mim, mesmo que não estivesse ainda do jeito que eu queria. O curto trajeto serviu para comprovar que, a despeito de todos os problemas que ele pudesse apresentar, aquilo era o que eu queria ou seja, ter um carro antigo.
Ainda me lembrei das diversas vezes que parava com ele em algum lugar e me faziam algum elogio pelo carro, perguntavam o ano, consumo etc, e saia sempre com uma pontinha de orgulho por ter tido a coragem de ter um Dodge Dart numa época de carros cada vez mais modernos, fáceis de dirigir, econômicos e de certa forma, sem graça.
Decidi ir vê-lo de novo, mais para ver como ele está depois de tantos anos. Aproveitei o feriadão de sol e lá fui eu ao Riacho Grande, com a câmera preparada, para ver se iria rever este tão irreverente veículo; estava povoado com pensamentos do tipo "será que o atual dono voltou o câmbio de 3 marchas?" "como estão as trocas de óleo?" "ele parou de esquentar? E de feder?". A ansiedade foi aumentando, pois da última vez que o vira (e isso já fazia uns bons 4 anos), ele estava com a lateral traseira levemente amassada, mas bem no geral. Não sabia como iria reagir, pois era como rever uma ex-namorada, um amigo de longa data ou um parente próximo que teve que se mudar e voltara para a cidade por alguns dias, e finalmente teríamos a oportunidade de nos vermos, nem que por alguns breves instantes.