Compartilhando o significado de ter um carro antigo... ou mais de um!

domingo, 11 de novembro de 2012

Olívia - a C10 mais lenta do mundo

A vontade de ter uma pick-up sempre existiu. Uma que fosse confortável, com estilo e grande o suficiente para carregar motores, portas, paralamas, e também móveis e vigas de madeira. O Sr Manuel, meu finado pai, era fã das pick-ups Chevrolet - teve uma Veraneio dourada (a qual ele adorava) e anos depois teve duas C-20 cabine dupla - a "pretinha", depois trocada pela "vermelhinha" - e quando eu tinha uma pick-up Corsa ele a usava com frequência para "carregar uns ferros e umas madeiras", devolvendo-a lavada, com tanque cheio, e um rosário completo de coisas que deveria ter feito nela e não fazia.  Por outro lado, nunca quis saber de pick-ups lentas, então Diesel sempre esteve fora de cogitação (principalmente pelo preço exorbitante), e a ideia de uma pick-up hot rod ou mesmo rat rod povoa meus pensamentos desde minha adolescência, junto com os sonhos de um Dodge Dart ou um Opala 6 cilindros.


Olívia, uma C10 de personalidade e sorte.
Pois nessas voltas que a vida dá, recentemente apareceu a oportunidade de começar a tornar tal sonho realidade, pelo e-mail de um amigo de Santana do Livramento (o Alberto Muller, da POAPARTS), anunciando uma Chevrolet C10 77/78 bege, que precisava de um trato mas tinha um preço convidativo. Após acertar preço, transporte para cá, e a vendas de peças para pagamento de parte dela, fechamos negócio. O detalhe é que ela não é uma C10 comum - ela é uma das poucas que saíram com motor 4 cilindros de fábrica, igual ao do Opala, o que foi feito pela Chevrolet na época para concorrer com a Ford e sua F-100 4 cilindros, cujo motor 2.3l foi herdado do Maverick 4. O sucesso da C10 4 cilindros foi, digamos, questionável. O motor era fraco demais para arrastar a pick-up com carga, e para se ter algum desempenho (mesmo que fraco), era preciso acelerar muito o motor e consequentemente o consumo era quase igual ao das C10 6 cilindros. A grande maioria delas acabou sendo convertida para Diesel e passando a vida útil sendo usada e abusada na carga de peso em cidades e principalmente na zona rural.


Tanto espaço no cofre para um motor tão pequeno...
Para sorte da Olívia, ela trabalhou mas não até morrer, e acabou sendo trocada por uma outra pick-up pelos antigos proprietários e ficando guardada até que o besta aqui se habilitasse a ver as fotos dela e depois comprá-la. Depois de alguns dias ela desembarca aqui na cidade e poucas surpresas surgem. "Poucas?" Você pergunta. Sim, foram poucas pois eu já esperava pelo pior e a experiência já me ensinara que, ao ver as fotos de algum carro na internet, divida a expectativa por dois ou três e terá a realidade. E no fim, até que a surpresa foi positiva, já que ela não está com podres, o estofamento está muito bom e o desgaste dela é natural para um carro que foi usado com parcimônia por quase 35 anos a fio. Em compensação, nunca dirigi um carro tão lento na minha vida - é verdade, o Irineu (Gordini) é muito mais ágil que esta pick-up e o motor, já baleado de uso, mal suporta o próprio peso. E a direção dela - mecânica, sem assistência hidráulica - não é pesada mas demanda tantas voltas ao volante que mais parece um navio do que um carro. Além disso, a suspensão dela possui "oportunidades de melhoria" - um jeito bacana de dizer que vai precisar de uma revisão completa e irrestrita, que vai envolver a troca de quase tudo. Freios? Que freios?


Na minha primeira volta com ela, a primeira coisa que aconteceu foi acabar a gasolina. Sim, nem cheguei a dar uma volta completa que ela pipocou e empacou no lugar. Por sorte, minha irmã estava passando e me resgatou para o posto de gasolina, onde enchi um galão de 5 litros e, com gasolina no tanque, Olívia voltou à vida, e mostrou que o que ela tem de valentia, tem de vagarosa... Alguns dias depois, lá foi ela para a oficina do Henrique para "aquela" revisão e alguns fretes neste interim. O traslado foi feito com quatro pessoas dentro, como a foto ao lado comprova as "quatro cabecinhas" lá dentro dela e pela velocidade parecia quase que um cortejo, já que a segui em outro carro e o máximo que chegamos foi 60 Km/h. Mas ainda assim, não é que ela virou a sensação de lá? A sensação só não foi maior porque chegando na oficina, a gasolina acabou de novo, e lá fomos nós de novo encher um galão no posto para abastecê-la. Muito curioso isso - andar ela não anda NADA (duvido que ela tenha passado dos 70 Km/h), mas consome como se tivesse sempre a mais de 200 Km/h. Entendeu por que o motor 4 cilindros não deu certo? 

O charme do interior rústico e funcional da C10.
Mas legal mesmo foi, quando ela foi realmente necessária para um carreto para o meu irmão, mesmo depois de um "tapa" no motor, ela decidir enguiçar na Vila Prudente, numa avenida bem movimentada num sábado de manhã. Além da grande frustração em não cumprir com o dever de ajudar ao meu irmão em algo que ele estava precisando, ficou o mico de esperar pelo Henirque (quem mais, afinal)? chegar para constatar um problema no platinado que meia hora antes havíamos mexido e não funcionado. Foi a única vez que fiquei chateado (ou melhor, puto) com a Olívia, mas isso já passou. E também teve a vez que ela começou a descer sozinha enquanto eu a carregava com peças (culpa de um freio de mão mais psicológico que físico)... enfim, com pouco tempo ela já tem um monte de histórias. Como ainda tem muita coisa a ser feita, vai reunir ainda um montão de outras histórias (espero que de viagens gostosas e momentos de alegria). E que seja bem vinda à família, que mesmo problemática, se diverte muito. O Sr Manuel adoraria vê-la e deixá-la como nova (certamente com um motor mais possante, mas daí é para outro dia), mas deixa comigo que - de um jeito diferente - a Olívia vai voltar à glória.


9 comentários:

  1. Grande Pinho: desempenho de Irineu e consumo de Puma GTB desregulado? kkkkk... velho, parabéns pela aquisição!!!

    ResponderExcluir
  2. KKKKK.... muito bem observado, Evandrão. Por enquanto ela gasta combustível e se rasteja como se não fosse haver amanhã.

    ResponderExcluir
  3. E aos poucos você vai tornando os seus sonhos realidade. Já reparou nisso? Talvez a montoeira de coisas a fazer nos carros dissipe um pouco esta sensação, aliada ao peso da rotina, mas que as coisas estão acontecendo, ah, isso estão!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. É verdade, Dri. Rápido ou devagar, as coisas parecem estar acontecendo, e seguimos juntos realizando esses sonhos. Agora só falta uma casa para caber a "família" toda junta.

      Excluir
  4. Que legal sua história, eu também estou nessa mas a minha e 6 canecos e bebe muito deve fazer uns 2 km/l na cidade, mas gosto dela é minha primeira pick-up e trabalha muito bem todos os dias.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Tiago, obrigado! Ela em breve vai ganhar algo mais vivo que o 4 cilindros e que talvez até fique mais econômica. E de qualquer forma as C10 são realmente confiáveis desde que estejam com a mecânica em ordem.

      Excluir
  5. Eu tenho uma 73 6 cilindros apesar de beber é muito prazerosa de dirigir (e acabo escapando da máfia do frete, carrego de tudo nela), da considero uma das melhores compras que já fiz. Eu te aconselho a colocar um cambio 5 marchas do opala mais novo, tem mais recurso, a minha 3 marchas é muito espaçada, não troca o motor, a minha continua com platinado, quando ela para eu vou direto nele ou condensador (dez pila cada um) e sigo viagem.

    ResponderExcluir
  6. Eu tenho uma C10 ano 77 so que 6 cilindros ela faz 7 km por litro a 70 km por hora e 5.5 a 120 km por hora não tenho ela pra o dia a dia pois sei que sua saude está debitanda mas participo de muitos eventos de carros antigos o público admira bastante mas ninguém quer levar pra casa .

    ResponderExcluir
  7. Estou pensando em comprar uma C10 78 mecânica 6cc com câmbio no assoalho de 4 marchas.
    Tudo original de fábrica.
    Será que não é bom negócio? Seria para finais de semana?

    ResponderExcluir