Compartilhando o significado de ter um carro antigo... ou mais de um!

sábado, 14 de janeiro de 2012

Quero-quero (ou "aproveite o tempo")

Estava saindo do trabalho numa quinta-feira e me deparei com este desconfiado quero-quero - esta ave é bastante arisca quando está com filhotes, e curiosamente faz ninhos em lugares planos e descampados, portanto gramados de fachadas de empresas são locais perfeitos para eles. E ao admirar o atrevimento do pássaro em caminhar por uma área industrial e sair de perto de mim com cara de "Ih, sujou! Fui pego no pulo!", comecei numa divagação... inicialmente boba, mas que me levou longe, passando de carros à vida em geral (profundo, não é?)... inclusive sobre um dos primeiros posts que aqui coloquei, sobre a Pirâmide de Maslow - afinal, trata-se de "resolver necessidades", sejam elas a de escalar o Pico da Neblina calçando Sandálias Havaianas (a tal "autorealização") ou então a de tomar um copo d´água ou tirar a mesma água do joelho (a famosa "necessidade fisiológica"), e consequentemente nunca nada está totalmente bom, o que nos torna personificações do "Quero Quero".

Bom... só sei que depois de tanto pensar e fazer, ter ficado espremido num avião que há duas semanas, doido para voltar para casa, ter dirigido o Wenceslau (que se comportou como um fiel amigo, como era de se esperar), visto a praia e sentido o calor agradável de uma tarde de verão foi ótimo. Deu até para esquecer o atraso do voo, a neve, as perturbações profissionais e os compromissos a elas atrelados. Os dias passaram, os fantasmas que escoltam os desafios da rotina assombraram novamente, e todo o relaxamento anterior foi sumindo à proporção em que as cobranças foram aparecendo, o jogo de xadrez no trabalho se complicando, os problemas com o Puma que não cessando e a situação da dívida do Pereira ainda esquisita. Até que senti uma dorzinha que nunca havia sentido antes...

Minha reação natural seria o famoso "bobagem, isso não é nada", mas fiquei com medo de algo mais grave com a minha saúde pela primeira vez na vida. Daí, o "quero quero" deixou de lado a caçada pela autorealização e mudou para a da segurança - neste caso, a da minha saúde. Devo admitir que não estou mais tão jovem quanto eu gostaria de estar, mas também não estou velho - e a hora de cuidar da máquina é quando ela está boa. Hoje fui ao médico e tudo está aparentemente bem (os exames comprovarão se é verdade ou se há "oportunidades de melhoria"), mas foi estranhamente reconfortante ouvir dele que a melhor coisa que fiz foi tê-lo procurado para investigar essa dorzinha, pois os sintomas de algo muito pior são muito parecidos, e quanto antes o tratamento, melhor.

Neste interim entre a dor aparecer e a realização da consulta, muitas coisas se passaram pela minha cabeça, e coincidentemente vi a matéria sobre um livro em que uma enfermeira britânica escreveu a respeito dos desejos mais frequentes de pacientes terminais (se não leu, o link está aqui: http://folha.com/no1047888) - então, mesmo com a saúde perfeita, concluí que algumas coisas vão mudar... quais, não sei exatamente ainda, mas certamente irão. Uma delas: um dos carros vai ficar guardadinho, andando o mínimo necessário para não estragar, até que chegue a vez de mexer nele (provavelmente o "eleito" será o Irineu, ou o Puma caso ainda fique com ele), para poder terminar a Manuela e o Don, e depois mandar o Wenceslau para a funilaria + pintura. Também, vou começar a procurar "sério" uma casa ou um terreno, para poder ter um pouco mais de espaço e poder reunir mais minha família num local com mais ar livre - ou pelo menos sem que ninguém fique apertado como ao recebe-los aqui no cafofo. Outra coisa, é que vou usar os carros com mais frequência e dedicar um pouco mais de tempo a eles no meio da semana, já que hoje eles ficam mais tempo guardados consumindo gasolina do que outra coisa - e se chover, inundar ou ficar calor demais, não tem erro, isso faz parte da graça. E também que, em 2013, vou atrás de um Austin Mini para chamar de meu. Um como este que fotografei na estrada indo para a Glasgow (a M5) - valente o suficiente para enfrentar o frio e a velocidade, mas mantendo a classe. E sem frescuras! Vou conseguir? Onde vou guardar? O que fazer com ele? Não sei, mas acho que ele vai fazer sucesso quando chegar, e depois vemos no que dá. A vida pode ser curta pacas, ou infinitamente longa, e o negócio é aproveitar o que dá, e poder conciliar os compromissos com os prazeres na vida, para não acabarmos como este outro Austin Mini da foto mais abaixo - lindos exemplos, mas cheio de alegorias e que só servem para foto, sem ter vivido uma história boa ou feito algo de se orgulhar; apenas, serviu de vitrine para os outros olharem, admirarem e depois seguirem em frente como se nada tivessem visto.

Talvez este tenha sido o meu post mais confuso que já escrevi, talvez pelo tempo que fiquei sem publicar outros, mas mesmo assim espero que você, querido leitor, tenha entendido a minha simples mensagem de que "o negócio é aproveitar - de forma responsável - o hoje, porque o amanhã não passa de uma possibilidade", pois a vida pode mudar de uma hora para outra, e quando menos se percebe... corremos o risco de acabarmos como apenas um número. O meu "quero quero" é que sejamos felizes, vivamos com sabedoria que conflitos existem para valorizarmos a harmonia, e que depois que o tempo passa, não adianta chorar o leite derramado. Então, tá esperando o que para comprar o seu carro antigo e sair passeando com ele??

Finalizo este post com uma foto que encontrei no arquivo da empresa, onde cinco homens estão em frente a uma DKW Vemaguete (provavelmente 1958, a confirmar), no terreno onde hoje fica a Rolls-Royce. Além de "vintage", esta foto serve para lembrar como o tempo passa, e mesmo tendo realizado um montão de coisas, sempre se corre o risco de ninguém se lembrar de nós. Se alguém tiver notícias de alguém destas fotos, por favor escreva e compartilhe. E se não tiver notícias, escreva e compartilhe do mesmo jeito.
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2 comentários:

  1. É, Lu, às vezes tenho a sensação de que o tema de nossa jornada sempre orbita esta questão "saber viver o hoje". Por algum motivo temos uma dificuldade imensa em aprender. Avaçamos uma gota por vez, nos debatemos sempre nos mesmos dilemas e não achamos os meios para concretizar as mudanças. Por que isso? Por hora, mais importa que não desistamos de tentar.
    Muitos beijos!

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  2. Vou começar comentando de baixo pra cima, não conheço ninguém desta foto, mas deixo aqui o meu pensamento de o quanto e difícil sermos lembrado após anos ou meses, por algo que fizemos no trabalho, seja por uma inovação ou qualquer outra coisa boa, afinal a história de sermos insubstituíveis, não se aplica ao trabalho. E o que garante que estes da foto não são importantes? O exemplo é a realização de uma obra (construção), aposto que o nome do engenheiro/arquiteto será lembrado (de forma positiva ou negativa), sendo que na verdade trata-se de uma equipe que construiu... Resumindo, leva o nome quem está na “frente”, onde na verdade muita gente ajudou...

    Agora pergunte sobre alguém que já não está mais em vida da nossa família, esse sim fez toda a diferença em nossas vidas... Como nos exemplos do livro que citou, apenas um dos “arrependimentos” está ligado ao trabalho, que é o simples fato de ter perdido muito tempo neste e esquecido de aproveitar as coisas simples e muitas vezes mais importantes da vida, como exemplo: a família.

    Cuidar da saúde é importantíssimo e nunca é tarde para fazer planos, é isso que ajuda a ter expectativa para o futuro. A idéia do “carro do Mr. Bean” é o máximo também, gosto muito do modelo e já logo me lembro da série humorística, apesar do meu pouco conhecimento técnico deste clássico...

    Só não entendi a data do post, quando abri o blog procurando este, não o vi de cara, mas bastou rolar o mouse e lá estava ele...Obrigado e parabéns pelas palavras, este é um daqueles posts que fazem quem ler, repensar em valores, planos e outras razões da vida...

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